terça-feira, 22 de outubro de 2013

um para duas, um para dois

Encontra-o por acaso. Ele parece perdido, mas não diz nada. Ela sente-se perdida, mas nada diz. No fundo, ambos sabem onde estão e porque não querem ir embora, mas nenhum deles dirá nada. 
Não imaginam os demais transeuntes que por ali passam aquilo que aqueles dois já passaram - nem eles o confessam um ao outro, porque nem um nem outro foram capazes de algum dia o dizer a si mesmos. Estão perdidos, confusos e frios. Ela tem a ponta do nariz gelado, e ele enfia as mãos nos bolsos desajeitadamente, com esperança de conseguir voltar a sentir os dedos.

Permanecem calados. Ela tenta arranjar uma desculpa para ir falar com ele, enquanto ele tenta ganhar balanço para ir ter com ela; soubessem eles o que passa pela cabeça um do outro, e certamente não perderiam tanto tempo. 

Lá pelo meio da multidão, alguém grita que ainda não é tarde. Ela fecha os olhos, porque sabe que é verdade; não sabe a quem o grito anónimo se dirigia - se não seria tarde para apanhar o comboio ou para ir ao talho - mas estava certa de que aquelas palavas eram as certas. Ainda não é tarde. Ainda há tempo para reescrever o passado. 

Ele parece não ter ouvido nada, de tão absorto que está numa bússola avariada na barraca das velharias; ainda não a viu, apesar de a ter na mão. Pensa como seria bom se, por uma vez que fosse, conseguisse lutar contra si mesmo, se conseguisse não ter medo. 

O dono da bússola tira-o do transe; ele olha em volta, à procura dela. Ela baixa o olhar instintivamente - mesmo sabendo que já de nada adianta e ele a tinha visto. E então, repensam os dois o passado, e sabem-no quando os olhos se encontram - não valeria a pena tentar escrever um final mais feliz para aquela história que parecia inacabada? Ambos sabiam que sim, mas não sabiam por onde começar. É sempre difícil começar o fim, seja ele bom ou não. Talvez se pudessem conhecer de novo, como se fosse a primeira vez - ou talvez pudessem retomar exatamente onde ficaram. Mas faltavam-lhes as palavras, faltava-lhes a coragem.

Ainda não é hora, pensaram, se calhar até ao mesmo tempo. Um dia acertam os relógios e encontram-se de vez, sem precisarem de bússolas ou de mais palavras que justifiquem o que não foi dito na altura. Tanto ela quanto ele, sabem que, mais tarde o mais cedo, acabarão por ficar juntos, porque cada reencontro lhes sabe como um regresso a casa. Como uma certeza de que está tudo bem, por mais que insistam que estão melhor assim. Talvez um dia se cansem de fingir que não se importam. De fugir daquilo que os podia fazer felizes. Talvez um dia se acertem de vez.

3 comentários:

Anónimo disse...

Donde é que copiaste isto? :-)

Anónimo disse...

Queres que acredite que é teu? Pffff

patrícia disse...

Ainda não percebi se é um elogio xD