quarta-feira, 30 de abril de 2014

podia ter escrito isto

vivo ao máximo o que sinto. sejam coisas más ou boas, vivo-as ao máximo. e podem dizer que está mal, que só devemos tirar o máximo das coisas boas. até pode ser. mas se eu sinto as coisas com uma intensidade semelhante, também as vivo de forma igual.

se estou bem, estou muito bem. se estou mal, estou muito mal. se estou irritada, estou furiosa. se estou triste, estou muito triste. se estou normal, estou normal. se estou feliz, contagio toda a gente.

procuro agir de acordo com a minha consciência. às vezes tenho muitas dificuldades em dizer não. quando acho que errei, sou a primeira a pedir desculpa. mas se acho que estou certa e de bem com a minha consciência, não vergo.

Sempre respeitei o próximo, acho que o respeito é fundamental na sociedade em que vivemos e lamento que muitos tenham uma incapacidade total de respeitar os outros. mas tenho aprendido a respeitar-me. cada vez mais. nem que para isso tenha que desrespeitar um bocadinho que seja esta ou aquela pessoa. é um bocado contraditório, mas é assim mesmo. a vida é feita de contradições.

(...)

roubado à amélia

threeyearslater

Acho engraçada aquela cambada de moralistas que adora usar frases feitas por contemporâneos dos dinossauros, uns a dizer que desistir é sinónimo de perder, outros a defenderem que é preciso saber quando parar de insistir. Ninguém se entende, para variar, nem se apercebem de que há mesmo otários que adoram reger a vidinha por essas frases ditas por alguém que, com um bocado de sorte, bateu a bota com uma overdose. 

É preciso decidir, custe o que custar. É preciso ponderar e, sim, usar os tais vinte segundos de coragem louca e fazer o que quer que se queira fazer, ou então arrumar o assunto de uma vez e seguir em frente. Qualquer uma das hipóteses é válida - e qualquer uma terá consequências. Errado é ficar eternamente nesse impasse, no limiar entre o insistir e o desistir, sem saber muito bem para onde é que se hão de virar. Os típicos nem fode, nem sai de cima, por assim dizer. Isso é coisa para me enervar um bocado.

demasiado bom

You had my heart inside of your hand, and you played it to the beat, ou como isto está perfeito, senhores!

não me sai da cabeça

Uma das razões - todas elas excelentes, deixem-me que vos diga - para ele ter partido do princípio que eu tinha um namorado foi o facto de a patrícia ter. Ou por eu ser desconfiada ou por isto ser absolutamente ridículo, isto soou-me a desculpa tão, mas tão, mal amanhada, que não consigo não ficar ainda mais fodida com ele - acho que ele ainda não percebeu porquê. E também acho que não se importa. Safoda. 

terça-feira, 29 de abril de 2014

até um dia.

Quase nunca entro em cemitérios - sei que não vou encontrar lá quem procuro, nem tão pouco me confortam as pedras frias, dessas que ostentam a fotografia de quem perdemos. Não que me seja indiferente - prefiro essa ideia, ainda que mórbida, de que quem amo está ali, reduzido a um corpo apodrecido lentamente devorado por bichos, reduzido a ossos, reduzido a nada, do que à não-existência definitiva da cremação. Mesmo que não o possa ver, mesmo que não o possa tocar - sei que, algures, uns palmos abaixo, está o que resta de quem se foi. Que ainda existe. Que ainda é.

Quase nunca entro em cemitérios, mas hoje entrei. Pode parecer loucura mas, volta e meia, ainda me torturo para me tentar lembrar do que disse antes de sair do quarto, na última vez em que vi o meu tio. Ele já estava meio inconsciente, mas - e disso eu lembro-me bem - reconheceu-me, apesar de já não se conseguir lembrar de quase ninguém. Reconheceu-me e voltou-me a contar a mesma história que me contou vezes e vezes sem conta, de um dia em que, aos dois ou três anos, o fiz chorar a rir. E naquele dia, lembro-me de também ter tido vontade de chorar, ao ouvi-lo contá-la, já de olhos fechados, já de voz ténue, já quase sem fôlego. Ele estava-se a ir aos poucos, e eu acho que sabia disso. Só tenho pena de não ter tido as ideias suficientemente arrumadas para ter percebido que seria a última vez que ele se riria com aquela história. Eu devia ter percebido, devia ter-me despedido em condições. 

Como é que é suposto despedirmo-nos de alguém que não voltaremos a ver? Não sei. Mas estou certa de que não o fiz bem. De que devia ter sabido demonstrar o quanto me iria custar perdê-lo, mesmo que a doença talvez já nem o deixasse percebê-lo. Para ser franca, ele não era meu tio, nem partilhava comigo qualquer gene - era o marido da minha tia-avó. Não partilhávamos apelidos, mas partilhámos dias, anos. Ele ensinou-me tanto, mesmo calado, que eu nunca lhe poderia explicar a falta que me faria - gostava dele como se fosse meu avô, e ele considerava-me a neta mais velha. Acho que ele sabia disso, mas gostava de lho ter dito a tempo.

Não me lembro de como me despedi dele em vida, mas lembro-me do único momento em que chorei no funeral - tal como todos os outros netos, meti-lhe uma rosa branca em cima do caixão. Um dos meus avôs tinha acabado de morrer. Faz hoje três anos.

sobre os fins

De cada vez que alguma coisa acontece, as pessoas têm a mania de simplificar, de minimizar danos incalculáveis, de dizer que não é o fim do mundo - mas é. Não percebem, mas é. Ninguém repara nos muitos, nos infindáveis, fins do mundo que todos nós vamos vivendo ao longo do tempo, os fins do mundo que nos perseguem desde o início ao fim das nossas vidas. E de cada vez que um sonho é destruído, de cada vez que uma réstia de esperança morre, de cada vez  que tudo dá errado, há um fim do mundo, sim, e nunca acreditem em quem vos diz o contrário. Morre o mundo como o imaginávamos, como o sonhávamos, como o queríamos, e isso não é menos triste só por nem todos concordarem. Deixai chorar quem morreu hoje. Amanhã eles renascem.

addicted

People used what they called a telephone because they hated being close together and they were too scared of being alone.

Chuck Palahniuk,
survivor

another one

People don't want their lives fixed. Nobody wants their problems solved. Their dramas. Their distractions. Their stories resolved. Their messes cleaned up. Because what would they have left? Just the big scary unknown.
Chuck Palahniuk,
survivor

por inteiro.

[fria, nunca ela quis que a tomassem como menos do que gelo, como menos do que um iceberg, sempre quis que todos percebessem que havia uma certa distância a ser mantida porque qualquer contacto com ela se tornaria perigoso. fria, ela sabia que não era mas, dizia-o a si própria, havia de aprender a sê-lo, a sê-lo tão bem quanto o conseguia parecer. mas enquanto a definição não se aplica, roda a roleta russa outra vez, má sorte, péssima sorte, tanto no amor quanto no jogo e mais ainda quando os dois se juntam. tenta não chorar porque é fria, porque todos sabem que ela é fria como o gelo, e que nada a comove. foge em jeito de passeio para não ter de contar a ninguém do que foge, para que ninguém ouse julgar que é fraqueza todo esse medo que ela sente de tudo o que lhe ameace a frieza. foge. foge. senta-se na beira da estrada, numa estrada vazia, talvez a tomem como prostituta mas ela não quer saber; está com o cabelo ensopado pela chuva, tem na cara o rasto preto que o eyeliner lhe vai deixando na cara molhada, e chora. chora naquela noite, muito mais como a menina perdida que é do que como a mulher de  olhar gelado que se sente, e chora porque sabe que precisa, porque sabe que quer, porque sabe que pode. e, quando a chuva pára, acende só mais um cigarro, prolonga mais a pausa de duração indeterminada que deu a si mesma. não teria onde ir, mesmo que quisesse ir a algum sítio. não teria quem se preocupasse, quem a esperasse em casa com uma toalha na mão e com um abraço quente, mais quente do que o quente do coração que ela esconde dentro de si própria. e dá-se ao luxo de chorar mais uma vez, só mais uma vez, pela sucessão de falhas em que a sua vida se transformou, pelo medo que sente, pela insegurança. sabe que finge. sabe que se faz de forte para não mostrar ao mundo o quanto é fraca e o quanto se sente cansada. o mais que faça nunca será suficiente para que a olhem duas vezes, para que alguém a admire, para que alguém se lembre dela com um sorriso e saiba que nunca nada do mundo se lhe assemelhará, e ela sabe o que está errado. ela sabe que o mal está todo nela. sabe que nada há a fazer, senão continuar a fingir que não se importa. fingir. fingir, como sempre o fez. fingir até ao final; levanta-se, ajeita a saia. mais um cigarro. só mais um. dizem que faz mal, diz de si para si. dizem que mata. sorri. pode ser que sim.]

segunda-feira, 28 de abril de 2014

mas adorei

Quando dei por mim, passava das três da manhã e eu estava a acabar o looking for alaska - acho, sinceramente, que experimentei todos os sintomas de uma depressão profunda ao mesmo tempo. Sério. Só não cortei a carótida porque já estava um bocado tarde para fazer os meus pais limparem o sangue.

pray

É necessário perceber que, para evitar problemas de maior, o faz como quiseres de todas as mães é uma armadilha. Tipo faz como quiseres, mas se por acaso o que tu quiseres não for o que eu quiser, está o caldo entornado

Eu fiz como quis. Não era o que ela queria.
Aguardemos o tsunami.

só isso

Irrita-me um bocado quando vejo alguém a dizer que até com vontade de chorar faz os outros rir, naquela de heeey, look, sou mesmo forte e consigo disfarçar muito bem! 

Meus amores, eu consigo estar a derreter por dentro e ser a maior cabra por fora, e sim, também consigo estar cheia de vontade de chorar e continuar a rir-me e a fazer os outros rir - porque tenho um humor meio negro, e gozo comigo mesma a toda a hora - sério, sou capaz de rir e de chorar pelo mesmo motivo quase ao mesmo tempo -, mas isso não faz de mim uma heroína. Sou só um bocado mórbida e dois bocados desiquilibrada. Párem lá de se armar em madre teresa de calcutá e achar que são capazes de fazer milagres. 

Obrigada.

notícias de longe

Há poucas coisas melhores do que ouvir um até domingo! e saber que desta vez é mesmo até domingo, que domingo não vai ser pelo telefone. Que domingo, os (muitos) mais de mil quilómetros que nos separam, desfazer-se-ão em milímetros e poderemos, finalmente, abraçar essa pessoa.

Desde pequena que estou habituada às partidas e às chegadas, mas nem por isso fico imune aos sentimentos que elas envolvem - e hoje, estou um bocadinho mais feliz.

sobre os outros

Se eu já não consigo compreender as pessoas que parecem incapazes de soltar um único palavrão, não vá isso ser meio caminho andado para o inferno, sou incapaz de perceber o porquê de algumas continuarem a dizer rabo em vez de cu, tintins em vez de tomates - e, reparem, já nem peço que digam colhões! -, coiso em vez de período, and so on. Não percebo o mal - e como eu li em algum lugar, não fomos nós que inventámos as palavras, já existiam quando nascemos.

E eu estou-me a cagar para o facto de isso me fazer parecer labrega e mal criada. Querem saber? Com um bocado de sorte, sou mesmo - não tenho a mínima paciência para me fazer de santa. Um foda-se na altura certa sabe quase tão bem quanto um murro no focinho da puta que me irrita. E um vai à merda é sempre mais bem vindo do que um bom dia dito por obrigação - e se nada disto for suficiente, temos sempre o vai pró caralho. O vai-te foder. Mas tudo bem - se isto ferir susceptibilidades, leiam o post com uma vózinha irritante a gritar piiiiiiiiiiiiii em cada palavrão e fiquem a chamar-me porca interiormente, enquanto me odeiam em silêncio. Eu não me importo. Só não esperem que eu me arme em esquisitinha para parecer fofa. Não sou, fim.

deixem-me que vos diga

Eu gostava mesmo de ser daquelas pessoas que levam tudo na boa, que aceitam as coisas tal qual lhes contam e nem pensam no resto, no que fica por dizer - mas eu sou obcecada pelo controlo de tudo, e quando dou por mim já estou a fazer uma longa metragem na minha cabeça de onde só não resultam mortos e feridos porque deus não quer. E eu até podia viver bem com isto, não fossem os meus filmes ser, geralmente, daqueles dramas que me deixam a chorar descontroladamente durante três dias, duas horas, cinquenta e sete minutos e trinta e dois segundos, ou então autênticos filmes de terror onde eu sou a primeira a sofrer todo o tipo de assombrações possíveis. Sério. Penso sempre o pior de tudo, naquela de não me iludir com nada, e é uma merda.

god

De repente, dei por mim a desejar que isto fosse a gozar, ou então que a miúda tivesse um atraso mental profundo capaz de justificar tanta estupidez num minuto e meio.

domingo, 27 de abril de 2014

bem feita

Uma gaja bonitinha mas mais convencida que eu sei lá, postou uma foto com a descrição:
"Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante." Kurt Cobain
Hoje eu não vou reclamar por me sentir uma lontra obesa destinada a morrer sozinha rodeada de vinte gatos. Vou só acender uma velinha à nossa senhora das gajas feias por me poder orgulhar de já ter lido o principezinho duas vezes e saber que a frase é de antoine de saint-exupéry e que, definitivamente, não é uma boa ideia procurar frases na net naquela de se parecer muito culta, ou acaba-se por fazer figuras destas.

ainda a procissão vai no adro

Às vezes, o silêncio parece capaz de abafar qualquer voz que se tente fazer ouvir por entre o caos dos pensamentos, parece capaz de destruir todas as palavras proferidas, trocá-las pelo não dito, pelo mal entendido, pelo mediocremente subentendido. O silêncio marca uma pausa, um compasso de espera, um tempo vazio. Mas o silêncio não resolve nada - deixa em suspenso. Nunca ninguém sabe se se trata de um ponto e vírgula ou de um ponto final, ou até se se deixaram reticências na esperança de se escrever um final quando houver mais tempo, quando houver mais paciência, quando fizer sentido. O silêncio mata, tal como nos mata essa espera infindável em que a vida se transforma. E então, quando o silêncio impera, só resta uma alternativa: não o deixar reger a nossa vida. Muda-se a linha, muda-se o parágrafo. A página, se quiserem - ou o capítulo. Ou então, fecham o livro com força, ainda meio por escrever, ainda meio por explicar, e quem quiser que lhe arranje um fim melhor. Ou que o queime. Quando o silêncio se instala, o melhor é sair de cena e recomeçar outra vez. Com palavras. Com explicações. O truque é não desesperar. É não o deixar destruir. Pode ser que o quebrem - mas, se não o quebrarem, tudo bem. Deixai-o matar histórias, deixai-o matar sentimentos, mas nunca, por nunca ser, pessoas. E que a festa continue!

vou arranjar amigos novos

Desde que tive a infeliz ideia de contar que me senti a pior pessoa do mundo quando, na semana passada, fui como que obrigada a comer coelho ao almoço, que estou sempre a ser gozada por isso. Sério. Ele mandam-me imagens de coelhos, ele mandam-me fotos de leitões adoráveis, ele mandam-me os pintainhos mais fofos de sempre. Se eu não fosse uma lontra obesa, sentir-me-ia tentada a virar vegetariana só por amor aos bichinhos, mas safoda. Ainda hei de acabar devorada por lobos, só por causa das tosses.

sempre assim

Não consigo estar quieta, não consigo oferecer-me mais do que dois minutos seguidos, para parar e pensar realmente no que me desassossega, sem sentir necessidade de me ocupar com outra coisa. À conta disso, perdi a noção das horas, do tempo, do dia e da noite. Durmo quando calha, estudo quando posso, leio nos intervalos e, pelo meio, vou comendo mas - felizmente! - até a fome tem sido pouca. 

No entanto, não estou triste. Estou desapontada, sim, mas não estou infeliz. Estou aliviada. Chateada, é certo, rabugenta na maior parte do tempo, mas livre. Tão, tão, tão, livre.

é

There are always answers. We just have to be smart enough. 

John Green,
looking for alaska

sábado, 26 de abril de 2014

isto.

I wanted so badly to lie down next to her on the couch, to wrap my arms around her and sleep. Not fuck, like in those movies. Not even have sex. Just sleep together in the most innocent sense of the phrase. But i lacked the courage and she had a boyfriend and i was gawky and she was gorgeous and i was hopelessly boring and she was endlessly fascinating. So i walked back to my room and collapsed on the bottom bunk, thinking that if people were rain, i was drizzle and she was hurricane.

John Green, 
looking for alaska 

surrounded by idiots

Achou que se não tocasse no assunto eu acabaria por me esquecer do que sentia e ficava tudo bem, e acho que continua sem perceber o porquê de eu estar tão chateada com ele. Geez. Não temos 5 anos, só isso.

vai ser sempre a questão central da minha vida

Tive de me obrigar a largar o looking for alaska a umas míseras 100 páginas do fim, sentar a real peida na cadeira e começar a estudar. O meu problema é que estou a perceber tanto disto estando a estudar quanto estaria se continuasse refastelada a ler. Sério. Estou mais perdida do que eu sei lá, e fazer resumos está a ser meio estranho porque sinceramente não consigo perceber o interesse de metade do que está escrito nos livros e nos ppts, nada daquilo me parece minimamente relevante. Again: porquê ciências? 

também posso limpar sanitas

Quando digo a alguém que não faço ideia do que quero fazer a seguir, ainda olham de lado como se eu fosse uma aspirante a delinquente que quer ganhar a vida no ramo do tráfico de droga, porque nesta altura do campeonato já devia estar mais do que decidida. Guess what? Não estou. Não estou minimamente certa do que quero fazer a seguir, mas isso não me assusta nem me faz perder o sono à noite. Logo se vê.

E sim, enfermagem é uma hipótese e eu estou quase certa de que iria adorar - da mesma forma que iria adorar qualquer curso mais virado para as letras. Mas, neste momento, nada está decidido, nem para lá caminha; estou dependente da nota do exame de biologia e, mais do que tudo, na minha vontade no momento de decidir. Já disse: logo se vê. Tentem é não se preocupar mais com isto do que eu.

thinkin'

Outra das ironias de eu meter sequer a hipótese de vir a ser enfermeira, é o facto de eu estar mais farta de hospitais do que do miguel sousa tavares, e olhem que isso é difícil. Claro que isto também é mais ou menos justificável com aquele meu lado eternamente masoquista que parece ter tendência para me arrastar para tudo o que me faz mal ou me chateia. Sou um bocado estúpida, é preciso que se note.

vidas tristes

A ideia de entrar em enfermagem não é tão inocente quanto isso. Faz parte do plano para começar a poupar nas despesas do hospital, tendo em conta que aqui a lontra é uma flor de estufa que já está a ficar doente outra vez. Valha-me deus. 

A sorte é que eu só vou ao médico em último recurso, quando começo a rever a minha vida toda e a despedir-me da família, e decido que 18 anos ainda é demasiado cedo para meter os pés para a cova - se assim não fosse, já me tinha mudado para uma sala de espera qualquer. 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

"tenho mensagens tuas de março de 2013"*

Nunca gravei mensagens.
Nunca fui daquelas pessoas que guardam tudo o que lhes dizem de bonito para ler uma e outra vez, porque, com estas coisas nunca se sabe, e o que se diz hoje pode ser mentira amanhã. Nunca as gravei porque lê-las uma vez me basta - se são boas, se fazem acelerar o coração, se fazem sorrir, não me vou esquecer do que lá estiver escrito, nem vou sentir saudades quando as apagar. Mas gravá-las é um erro. 

Imaginem, por exemplo, que vos dizem que vocês são mesmo gostosas, e vocês guardam aquilo, todas contentes, para reler ao longo do tempo. E, passados 30 anos, eventualmente, já encarquilhadas e com as mamas a roçar os joelhos, continuam a reler a sms de cada vez que alguém vos diz que deviam ter mais cuidado com o que vestem, que a idade não perdoa, mas vocês não querem saber porque têm a prova de que alguém vos fazia um assalto à cueca - é preciso juízo, é preciso perceber a efemeridade de tudo o que se diz. 

É por isto que não gravo mensagens. Se for para eu não me esquecer, que digam de novo, que digam mil vezes, mas não esperem que eu acredite mil vezes no que só me dizem uma vez. 

*isto só me serviu de título porque foi o que motivou o post. and because it scared the hell outta me.

percebi

As pessoas vão sempre surpreender-nos; umas pela positiva, outras pela negativa, mas arrisco-me a dizer que raramente alguém é o que pensámos. E, às vezes, parecem escolher surpreender-nos todas, de todas as formas, ao mesmo tempo - e nem sabemos se nos havemos de virar para as pessoas fantásticas que acabámos de descobrir ou para as que nos desiludiram e que sentimos não conhecer. É mais ou menos isto.

chamem-me esquisita

Pior do que existirem pessoas no mundo que não gostam de lavar os dentes é mesmo o facto de algumas ainda tentarem falar comigo. Não, filhos, não.

sobre mim

Adoro tanto quanto abomino a minha capacidade de me manter fria como o gelo, mesmo quando me sinto a ficar sem chão. Adoro porque o meu lado orgulhoso vive para não dar o braço a torcer por ninguém, e abomino porque deixou de ser uma capacidade para se tornar numa tendência que não controlo - e talvez fosse boa ideia ser mais transparente de vez em quando. Menos distante. Menos cabra. Parecendo ou não, também sinto e acho que consegui que se esquecessem disso. 

dos desejos que não e não

Nunca quis ninguém que precisasse de mim, que sentisse que devia estar comigo, que achasse que me devia alguma coisa. O que eu queria era que alguém, podendo estar em qualquer outra parte com qualquer outra pessoa um milhão de vezes melhor, escolhesse estar comigo. E ficasse grato, todos os dias, por essa escolha. 

É por isso que nunca me fez o mínimo sentido perseguir o que quer que fosse, fosse qual fosse a razão. Se tivesse de ficar, ficava. Não ficando, não o posso culpar.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

acertou-me no fígado

"Sometimes i don't get you", i said.
She didn't even glance at me. She just smiled toward the television and said, "You never get me. That's the whole point".
John Green,
looking for alaska

devorando livros outra vez

You spend your whole life stuck in the labyrinth, thinking about how you'll escape it one day, and how awesome it will be, and imagining that future keeps you going, but you never do it. You just use the future to escape the present.
John Green,
looking for alaska

pretérito perfeito

Houve uma altura em que eu fui feliz.
Nessa altura, todas as manhãs saltava da cama cheia de energia, metia no velho rádio um cd antigo da shakira e vestia-me ao som da whenever, whenever. Percebem porque é que eu acho que esta infelicidade toda é praga dos vizinhos?

notícias de longe

A minha monstrinha, a mini-patrícia em versão francesa, de quatro anos, cismou que queria aprender a andar de bicicleta sem as rodinhas pequenas. A mãe barafustou, mas acabou por lhe fazer a vontade; tirou as ditas rodas e ensinou-a a andar.

Dez minutos depois, a miúda já tinha aprendido. Como, mas como, é que é suposto eu não morrer de saudades da minha menina?

re

[é tudo tão mais fácil durante o dia, quando a claridade não me deixa pensar com clareza, quando tudo parece ter uma solução prática e viável que não passe pelo desespero iminente a que me entrego todas as noites -  a escuridão ofusca-me os pensamentos. fico com certezas de que não gosto, chegam-me ideias que não me convêm, até me lembrar de alguma coisa que me volte a turvar o que quer que seja que eu já tomasse como certo. não tenho um ponto de partida. neste momento, já nem faço ideia de onde quero chegar, ou se quero realmente sair do sítio onde estou, mas duvido que consiga ficar quieta. isso nunca foi do meu feitio - por mais que diga que desisto, insisto só mais um bocadinho, só mais uma vez, só mais cinco minutos, como que a prolongar uma esperança que me morre assim que nasce, qual última olhadela, derradeira olhadela, sobre o sítio bonito que teremos de abandonar. dói-nos sempre sair de um sítio onde nos sentimos bem porque sabemos que, quer demoremos um dia ou mil anos a voltar, nunca mais nada será como foi naquele dia, naquele momento, em que fomos felizes e tivémos de partir. se estivéssemos cientes da quantidade de perdas porque passamos ao longo da vida, da quantidade de vezes que nos despedimos de coisas sem o saber, na esperança de haver mais uma oportunidade, viveríamos muito mais infelizes. agora que a noite caiu, estou baralhada outra vez. nada me faz sentido, nada me sossega a alma, nada me cala a desilusão sentida que só cresce a cada dia que passa. ninguém me mata este fantasma enquanto me arrasto com ele atrás para cada canto da casa, enquanto tento, em vão, escapar-lhe a ele e à falta de ar que me causa de cada vez que tento respirar fundo, e volto a sentir a raiva que outrora senti, nos dias em que, tal como o de hoje, não sabia o que havia de sentir e não me restavam mais do que os sentimentos mesquinhos de quem está de mal com a vida. hoje, enraivecem-me todas as vozes do mundo, enraivece-me o gajo que insiste em publicar fotos dos músculos, enraivece-me a música que parece contar a minha história, enraivece-me a minha história porque sei que a tive nas mãos, enraivece-me o passado, enraivece-me o futuro, enraivece-me o agora que me deixa desnorteada e sem saber muito bem para onde ir. enraivece-me a cobardia, a falta de consideração, a indiferença. não, estas não me enraivecem; magoam-me. magoam-me como talvez nunca me haviam magoado antes. e eu quero adormecer. quero entregar-me ao mundo dos sonhos longe do desespero, longe da angústia, longe de tudo o que sinto acordada, mas não consigo. abri a janela e encontrei-me com a noite; o frio que se abateu sobre mim, despertou cada um dos meus sentidos. agora sou mais eu outra vez. sou menos dor e mais patrícia. sou um naufrago que ainda não desistiu de tentar voltar a pisar terra - mas a minha terra há de ser bem longe da de quem me atirou ao mar. há de ser noutro sítio, num qualquer sítio, de onde não se aviste o primeiro que me julgo incapaz de perdoar e onde não me magoe mais ainda o facto de não lhe fazer diferença. talvez essa terra fique no futuro, mas acho que posso esperar. posso não desesperar. comecemos de novo.]

quarta-feira, 23 de abril de 2014

breathe in, breathe out

Há um primo meu, daqueles primos afastados a quem só chamamos primos porque as nossas avós nos explicaram a consanguinidade das nossas famílias vinda do tempo dos dinossauros, que, depois de ter estado imenso tempo sem me ver, ficou fascinado. Não, a sério, não estou a gozar - sabe deus, aliás, sabem vocês, do quão má a minha autoestima é, mas eu juro que temi que o moço se esquecesse de que acabaríamos por ter descendentes ainda mais deficientes do que nós e me violasse ali - que eu tinha crescido imenso, que estava muito diferente, que tinha ficado mais bonita. Essas tretas que se dizem quando nem se sabe muito bem o que dizer.

Daí para cá, o rapazinho, começou a ser todo querido para mim, de uma maneira um tanto ou quanto desconfortável porque se nota que ele só fala para não estar calado e eu não sou propriamente perita em manter boas conversas com pessoas com quem não simpatizo particularmente. No sábado, encontrei-o e fui cumprimentá-lo. O que é que ele se lembra de dizer? 

Cresceste, já nem tenho de me baixar para te cumprimentar!

O que acontece é que ele tem mais meio metro do que eu e mesmo que me espetasse um beijo no alto da pinha, teria de se continuar a curvar para lá chegar. Além de que, foda-se, eu já disse que não cresço desde os 13 anos, párem lá de fingir que eu fiquei com esta altura da noite para o dia! Se é só para manter conversas da treta, perguntem-me pelo tempo, pela novela das sete, pelo que comi ao pequeno almoço do 25 de abril de '75, mas não venham com merdas sobre eu ser alta. Agradecida.

para acabar

É assim: para cada verdade, o contrário é igualmente verdade! Mais concretamente: uma verdade apenas se deixa exprimir e envolver em palavras quando é parcial.

Hermann Hesse,
siddhartha

das procuras

Quando alguém procura - respondeu siddhartha - pode acontecer que os seus olhos vejam apenas a coisa que ele procura, que não permitam que ele a encontre porque ele pensa sempre e apenas naquilo que procura, porque tem um objetivo e está possuído por esse objetivo. Procurar significa ter um objetivo. Mas encontrar significa ser livre, manter-se aberto, não ter objetivos. Tu, venerável, és talvez um homem à procura, pois, perseguindo o teu objetivo, muitas vezes não vês aquilo que está perante os teus olhos.

Hermann Hesse,
siddhartha

de volta

Ah, a ferida ainda não florescera, o seu coração continuava a lutar com o destino, o seu sofrimento ainda não irradiava serenidade e vitória.
Hermann Hesse,
siddhartha

patrícia e o caminho para o inferno, parte mil

Nunca consegui compreender a cena de, na páscoa, andarem com um crucifixo de casa em casa para beijar o senhor. Se a ideia é só beijar o senhor, eu preferia que fosse o senhor jared leto, o senhor eletricista gostoso que antes aparecia na escola, o senhor ian somerhalder, o senhor, giro que só ele, do quiosque ao pé da estação, o senhor channing tatum, o senhor que dá aulas de educação física aos putos, o senhor matt bomer, o senhor a quem queríamos dar a mesa no fórum - aliás, esses eram logo dois senhores, já dava para duas páscoas.

Sério, com tantos senhores gostosos para beijar, porque haveria de querer eu beijar um crucifixo gelado, onde as velhas também beijaram aka babaram?

E agora vocês respondem: porque esse seria o único que não fugiria a sete pés se o tentasses beijar. E eu vou ali chorar para o cantinho. Ámen.

no me gusta

A prova de que toda eu sou uma contradição é que, apesar de ser toda dada ao espalhafato, falar alto e pintar o cabelo de cores berrantes, naquela de me mostrar ainda mais diferente do que já o sou por natureza, é que eu odeio, odeio mesmo, ser o centro das atenções. Odeio sentir todos os olhos postos em mim, odeio falar em frente a muita gente.

Foi mais ou menos por isso que ontem fiquei a morrer de vergonha quando, por uma casualidade, o stôr me perguntou a idade da minha mãe e depois, em choque por dona mommy só ter 38 anos, todas as atenções se viraram para mim e começaram a fazer-me perguntas sobre a idade da real famelga. E sim, a minha progenitora teve-me aos 19, a minha avó tinha 40 anos quando eu nasci e real pai também acabou de chegar, há pouquíssimo tempo, aos 41, mas não, não estou minimamente interessada em procriar de forma a cumprir a dita tradição de família. A não ser que chame jesus ao puto.

também podemos destruí-lo, i guess

aprende isto: podemos mendigar o amor, comprá-lo, recebê-lo de oferta, encontrá-lo na rua, mas nunca roubá-lo.

Herman Hesse,
siddhartha 

pessoa, meu grande amor

(...)
Procura!
Procura sempre o fim de uma história,
seja ela qual for.

Dá um sorriso àqueles que esqueceram como se faz isso.
Olha para o lado, há alguém que precisa de ti.
Abastece o teu coração de fé, não a percas nunca.

Mergulha de cabeça nos teus desejos e satisfá-los.
Agoniza de dor por um amigo,
só sairás dessa agonia se conseguires tirá-lo também.

Procura os teus caminhos, mas não magoes ninguém nessa procura.
Arrepende-te, volta atrás,
pede perdão!

Não te acostumes com o que não te faz feliz,
revolta-te quando julgares necessário.
Enche o teu coração de esperança, mas não deixes que ele se afogue nela.

Se achares que precisas de voltar atrás, volta!
Se perceberes que precisas seguir, segue!

Se estiver tudo errado, começa novamente.
Se estiver tudo certo, continua.

Se sentires saudades, mata-as.
Se perderes um amor, não te percas!
Se o achares, segura-o!

Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
“O mais é nada”.

Fernando Pessoa

terça-feira, 22 de abril de 2014

enfrente ou em frente

Parecendo ou não, há uma diferença abismal entre resolver um problema e optar por ignorá-lo, ainda que, na prática, quem opta por qualquer uma das hipóteses acabe por ter exatamente a mesma atitude: seguir em frente. 

Cortar o mal pela raiz não é fácil, mas creio que vale a pena. Acredito piamente que será sempre muito mais fácil do que deixar que o mal se arraste no tempo, atrás de nós, à espera de que algum dia, por obra de uma qualquer divindade, se nos dê a pachorra de o resolver. É preciso coragem, é certo, mas é sempre o melhor a fazer antes de, e aí sim, com toda a dignidade, esquecer o que quer que tenha acontecido.

Varrer o lixo para baixo do tapete é desesperante, especialmente para o lixo que, incapaz de fazer o que quer que seja, terá mesmo de se contentar com a posição onde o deixaram, mas acredito que também o seja para quem o varreu. Se querem que vos diga, estou mesmo a rezar para que seja - é o mínimo preço a pagar pela cobardia de fazer de conta que, escondendo o que não se quer ver, ele desaparece.

Às vezes, o monte de lixo é demasiado grande para ficar coberto por um tapete, de maneira a ser espezinhado até que, reduzido a grãos de pó cada vez mais finos, deixe de ter importância. Não. Às vezes, a ponta enrola-se e a poeira espalha-se. Outras vezes, graças ao esquecimento disfarçado, tropeça-se no tapete, vezes e vezes sem conta, até que alguém se decida a ir buscar a merda do aspirador. Se nunca se decidirem a fazê-lo, tudo bem, é convosco - mas não culpem o lixo pelas vossas quedas. Nem o culpem por ficar contente de vos ver ficar sem dentes. Vocês merecê-lo-ão.

cinderela e a erva

Lembrei-me de ontem ter sonhado que estava a dormir com a minha avó (?!), em casa dela, e a meio da noite ter chegado um casal com um puto pequeno, mais a tia e a avó, e nos terem tentado tirar do quarto porque queriam brincar com o monstrinho em cima da cama.

Entrego-me à camisa de forças ou tento um salto de páraquedas, sem páraquedas?

sobre isso do crescer

Já não é a primeira vez que, e mais a propósito da carta de condução, eu me refiro ao facto de ainda me sentir demasiado novinha, mas graças a um post da ju, apeteceu-me esmiuçar o assunto até que vocês adormecerem.

Crescer é um tanto ou quanto assustador. Muito mais ainda quando percebemos que já temos liberdade para caminharmos pelo nosso próprio pé, sem ninguém a agarrar-nos a mão - passamos a vida toda a sonhar com isso mas quando acontece, temos vergonha de assumir que gostávamos de poder manter-nos mais um bocadinho na segurança da mão de quem nos ensinou a caminhar. Mas sabemos que não dá, que é hora de nos lançarmos no mundo, e isso é terrivelmente assustador.

Notei mais isso desde que tirei a carta. Foi nessa altura que eu percebi que estava mesmo a conquistar um tipo de independência que até então me era desconhecida, e que estava já com um pé nesse mundo onde as pessoas têm de ser muito mais responsáveis do que aquilo a que eu estava habituada. Não que me ache particularmente irresponsável ou imatura - tenho momentos de estupidez pura, tenho tendência para levar quase tudo para a brincadeira, mas é uma questão de feitio mesmo. Tenho a perfeita noção de que, a ser preciso, sei usar a cabeça e sei bem o que quero. Só não me sinto minimamente adulta porque não o quero ser. Ainda não.

O mundo lá fora não me assusta por completo mas, e apesar de até me desenrascar bem sozinha, ainda passo por aqueles cinco segundos de pânico do e agora, o que é que eu faço? de cada vez que me deparo com uma situação nova, porque isso tem sido cada vez mais frequente tendo em conta que é mais ou menos a primeira vez que experimento fazer a maior parte das coisas sozinha. E se, por um lado, ainda me sinto pequenina, demasiado pequenina, para enfrentar o mundo, por outro... só quero atirar-me de cabeça.

não sei de mim

Tenho um trilião de livros para ler e tudo o que me apetece fazer é reler os meus preferidos. O tudo o que poderíamos ter sido tu e eu se não fôssemos tu e eu, todos os do harry potter, o perks of being a wallflower. Porquê? Nem eu sei explicar.

há gente que fica na história da história da gente


Não me perguntem porquê, mas mudei imenso nos últimos tempos. Especialmente no gosto musical - acalmei um bocado, deixei de sentir necessidade de só ouvir músicas que não me dessem aso a pensar. E até descobri que consigo gostar da mariza. Valha-me deus. No que é que eu me estou a tornar?

por estas horas

Tenho aulas amanhã e ainda não arrumei nada. O estojo e a calculadora estão em cima da secretária, mas quanto aos livros e cadernos, desconfio que estão na prateleira para onde eu os atirei quando arrumei o escritório, demasiado longe para que eu os apanhe ao esticar o braço, mas demasiado perto para que eu não me sinta culpada por ainda não ter preparado as coisas. Ao invés, lembrei-me de vos vir dizer que os momentos que mais tememos são parte daqueles que mais fazem valer a pena porque, correndo bem ou correndo mal, ao menos sentimos alguma coisa - e eu sempre usei e abusei de descartes a meu bel prazer,  e hoje regemo-nos pelo sinto, logo existo, porque eu quero. Amanhã logo se vê.

Vou arrumar os livros e tentar dormir. É só.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

o dia a seguir à vitória

Hoje foi o dia em que toda a gente se lembrou de que se orgulha muito de ser benfiquista e jura a pés juntos que já via todos os jogos mesmo dentro do útero. Ahh, vão-se foder!

medo é

Medo também é imaginar a reação dos meus pais quando perceberem que afinal temos, não uma, mas duas gatas grávidas - é desta que entregam para adoção o íman dos bichinhos cá de casa. Estou fodida.

redundâncias

O que é que se faz quando não sabe o que fazer?

highway to hell

Como é que é suposto levar a páscoa a sério, mais a história da morte e da ressurreição de jesus, se não há nem nunca houve uma data fixa para a comemorar? Apedrejem-me, mas para mim a páscoa só é sinónimo de engordar como, de resto, acontece durante o ano todo. 

domingo, 20 de abril de 2014

prom, como todos adoram chamar-lhe

Por estas alturas, já estou farta de ver fotos de bailes de finalistas, mas não sinto nem um bocadinho de saudades do meu. Não sei. Toda a gente fala como se aquela tivesse sido a melhor noite de sempre, e eu fico a achar que deve de haver algo de muito errado comigo por não ter sentido nada. As minhas expectativas não eram muitas, mas depois até comecei a ficar mais ou menos entusiasmada com a coisa - até chegar ao dia e ter percebido que não era nada do que eu imaginava. 

Não me senti mais bonita. Aliás, não me senti minimamente bonita, para variar. Não gostava por aí além do meu vestido que, à parte da cor, não era nem um bocadinho como eu o queria, fizeram-me um penteado que eu detestei porque parecia que tinha um ninho de rolas na cabeça, e os sapatos eram desconfortáveis ao ponto de eu ter dançado descalça a noite toda. Como se não bastasse, a comida era horrível e do jantar só se salvou mesmo o vinho verde e a sobremesa - juro que cheguei a ponderar lamber o prato.

Não estou a dizer que foi mau, que não gostei de nada, porque seria mentira - com pouca comida no estômago e vinho à descrição, até disse a um empregado que o amava e tudo. Só estou a dizer que já houve outras noites, supostamente banais, que se tornaram muito mais memoráveis do que aquela que parece que toda a gente aguarda. Mas talvez seja só de mim.

e eu nem sequer sou pequena

Sempre achei que tinha demasiado ar - e voz - de pita para ser levada a sério, mas começo a ficar ligeiramente preocupada com o facto de, no espaço de uma semana, ter ouvido duas vezes um mas tu estás sozinha?! chocado, ao encontrarem-me relativamente longe de casa e terem percebido que estava de carro. 

E eu ainda achava que o pior que me tinha acontecido era terem-me confundido com uma miúda pequena ao telefone e me terem perguntado pelo papá e pela mamã mas, pelo andar da carruagem, qualquer dia mandam-me parar e perguntam-me se eu tenho a certeza de que já não preciso de usar cadeirinha. Haja paciência!

é quarailho, somos campeões!

Foi para isto que jesus ressuscitou. E que o desfile de aziados comece.

a primeira sou eu que estou um bocado chateada por saber que o meu avô foi, pela 92738091 vez, ver o jogo à luz, e eu aqui.

num cumprendó.

Parte de mim ainda tenta acreditar que um dia vou conseguir compreender quem é que convenceu os gajos de que ficavam gostosos se exibissem uns músculos à hulk, e meter a evolução, passo a passo, no fb - porque não basta ser horrível, é preciso mostrar ao mundo como é que isso aconteceu.

E sim, apesar de ser uma lontra obesa, sempre tive uma certa queda para os franguitos. Podia dar-me para pior, o que é que querem que vos faça?

notas soltas

Encontrei uma nota no telemóvel que dizia:

por vezes, nem sabemos o efeito que temos nos outros. coisas de que nem nos lembramos, podem ter sido momentos decisivos para eles.

Percebi que nunca como agora isto fez sentido na minha cabeça. Provavelmente, nem no momento em que a ouvi algures num filme qualquer tinha tantas razões para concordar com ela. E isto, deixem-me que vos diga, é assustador. Não há nada pior do que tomarmos consciência de que nada podia ser mais verdade do que isto - não sabemos. Não sabemos as marcas que deixamos no mundo, não sabemos quantas vezes uma frase irrefletida da nossa parte não terá magoado alguém, não a terá tornado um bocadinho mais fria, não a terá afastado de nós. E as pessoas que perdemos por nunca termos percebido que as tínhamos - era só estarmos mais atentos. 

sobre o cabeleireiro

Continuo ruiva, ninguém achou que eu tinha trocado de pais e consegui passar as ditas três horas em silêncio na maior parte do tempo, a ler. Mas depois abandonei o livro e fui obrigada a levar com as conversas do costume, sobre tudo, sobre os nadas da vida, sobre o tempo, e começou a ser difícil não me partir a rir.
Primeiro, uma queixava-se das maleitas todas a outra, muito entendida no assunto, que parecia já ter tido todas as doenças do mundo, e saem-se com esta conversa:

- ... depois não conseguia mexer as mãos nem os pés.
- coluna. isso é coluna!
- não é nada! é um problema nos tendões...
- ah, pois, tendões... foi o que eu pensei.

(orly?)

Entretanto, outra decide começar a falar do quando a incomodavam os cães dos vizinhos, que ladravam a noite toda e não a deixavam dormir, mas achou que precisava de fazer uma descrição demasiado pormenorizada da coisa:

- eram umas onze, onze menos vinte, quando o marido disse que eu podia apagar a televisão, se quisesse, porque ele ia dormir. e eu, toda contente, fui-me lavar por baixo, vestir a camisa de dormir, enfiar-me debaixo das mantas e - um caralho foda o cão! - foi por deus eu me deitar, começou a ladrar e nunca mais se calou.

...
...
...

Eu devo mesmo ter sido uma pessoa muito má noutra vida. 

sábado, 19 de abril de 2014

do tempo perdido, do demasiado tarde

Nunca consegui compreender como é que há pessoas que conseguem estar sem fazer nada enquanto esperam. Se pensarmos bem, esperamos todos os dias - pelo comboio, pelo autocarro, pelo sono, pela vontade de fazer outra coisa qualquer. E, bem vistas as coisas, o que conta mais no final da vida nunca vão ser aqueles grandes momentos que aguardámos durante dias, semanas, meses, e que duram pouco mais do que nada. O que importa, são as pausas entre eles, os momentos em que, não tendo mais nada para fazer, podemos fazer qualquer coisa - e é exatamente uma dessas esperas que pode mudar a nossa vida. Para quê ficar somente a ver o tempo passar?

dos futuros promissores

Acho que nunca me tinha apercebido realmente do quanto mudei nos últimos tempos, até ter estado a ver fotos minhas aos 16 anos. Credo. Se eu hoje me acho feia e gorda, naquela altura eu parecia o marilyn manson grávido de quadrigémeos.

Depois, durante uma longa análise com a patrícia - a quem, diga-se de passagem, aconteceu a mesma coisa - chegámos à conclusão de que a maior parte das pessoas que aos 16 anos eram bonitas, agora estão mais feias, enquanto nós até melhorámos consideravelmente - por outras palavras, vamos adorar ver as gostosas de hoje a ficarem encarquilhadas enquanto, daqui a 60 anos, vamos ser nós as boazonas do sítio.

Quanto àquelas gajas irritantes que já nasceram bonitas e continuam bonitas, faleçam. Só isso.

desmitificando

Apercebi-me de que é meu hábito falar como se comesse este mundo e o outro e fosse capaz de devorar tudo o quanto seja ou se pareça com comida, mas nada podia estar mais errado. Primeiro porque, apesar de ser a lontra obesa do grupo, não como assim tanto e já cheguei a passar por aquele momento deprimente em que a amiga esquelética come a comida toda e ainda me limpa quase metade do prato, enquanto eu me sinto prestes a explodir com metade do que ela comeu. E, repito, ela é esquelética. Segundo, porque eu sou esquisitinha pra caralho e não gosto de quase nada do que as pessoas normais gostam. Sou uma lontra triste, deixem-me que vos diga.

planos para hoje

Por começar a temer que me confundam com uma vassoura, vou pintar o cabelo hoje com o vermelho que eu quero há uma eternidade, porque já não me posso ver armada em ruiva. 

A cena é que ir ao cabeleireiro é sinónimo de passar umas três horas a ouvir as velhas perguntarem-me quem são os meus pais, como se, eventualmente, eu pudesse ter decidido renegá-los e entregar-me para adoção. Não há cu que aguente, senhores.

obesidade é isto

Posso não ter jeito para mais nada neste mundo, mas lontra que é lontra sabe fazer 398893 doces diferentes e devorá-los enquanto o diabo esfrega um olho. Ora, hoje sô dona mommy decidiu meter a cria na cozinha - saiu um bolo de bolacha e um bavaroise de morango, e um trilião de pensamentos sádicos porque já não posso estar sozinha muito mais do que trinta segundos sem ter vontade de cortar a carótida. Só o não fiz porque, como é óbvio, há um bolo de bolacha para comer. 

sexta-feira, 18 de abril de 2014

e até um dia.

Com o medo, resumi. Deixei coisas para dizer depois, quando houvesse coragem, quando fizesse sentido - queria ter podido explicar-me, explicar-te as minhas reações, explicar-te porque é que, parecendo ou não, sempre te admirei. Pela (tua) indiferença, ficou tudo por dizer. Já não vale a pena. É uma pena.

vidas tristes

Não me perguntem porquê mas, pela segunda vez numa semana, passei a noite cheia de dores de costas e só consegui adormecer às seis da manhã. Agora, do que eu não me orgulho é de assumir que, assim como quem não quer a coisa, me espetei no sofá às cinco da manhã a comer bolachas - e descobri que, de vez em quando, há mesmo música na mtv - e a cantar a story of my life.

Em minha defesa, juro que nem sei a letra toda e só a aprendi graças a uma versão dos rudimental que mistura essa música com a the monster. É só. 

à laia de explicação

Peço desculpa aos comentários que tenho deixado sem resposta. Deixem-me só recuperar mais desta e eu tento meter isto nos eixos.

desmitificando

Já não é a primeira vez que eu e a patrícia temos fotos de perfil iguais e, ontem, quase repetimos a façanha. Agora vocês perguntam: porque são muy miguitas e gostam de ser facilmente confundíveis, ao ponto de vocês próprias se baralharem com quem disse o quê no chat? Não.

O que se passa é que nós tiramos cem fotos, mas conseguimos ficar mal em mil - a minha beleza rara não é observável através das objetivas, entenda-se -, o que, trocado por miúdos, significa que quando tiramos uma foto de que gostamos, essa tem de servir para tudo porque, acreditem, é uma raridade.

se fosse verdade

Eu sabia que, mais tarde ou mais cedo, ia encontrar um lado bom em ter um cu com, aproximadamente, três quilómetros. Não dizia? É isso que faz de mim um ser genial.

medo

Ah, mas queixavam-se dos homens andarem de cuequinha na praia e transformarem qualquer dia de verão num festival da salsicha? Então, tomem lá:



Agora comecem imaginar aqueles tanques de guerra que adooooram biquinis pequenos... com um destes.

incontornável

Eu gostava de ser magra, mas fico a morrer de fome só de pensar em fazer dieta. Sou triste.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

sério

Aproximadamente quarenta e dois segundos após me ter acomodado no comboio, de fones nos ouvidos e livro no colo, entrei noutra dimensão e deixei de ver o que quer que fosse à volta, até acabar o livro; quando levantei a cabeça, comecei a hiperventilar, e tive a certeza de que aquele era o meu fim. Sentado ao meu lado, estava aquele que eu estava capaz de jurar ser o rapazinho, que por acaso é das últimas pessoas que me apetece ver neste momento. Só podia ser ele; de perfil, era igual. Tinha os mesmos tiques, a mesma forma de estar, gesticulava como se o gajo com quem conversava fosse surdo. Até que decidi, finalmente, meter a música em pausa e, com o coração na garganta, tentar ouvir a voz do bicho - era brasileiro. E, depois de uma eternidade a olhar para ele, cheguei à conclusão de que era meio encardido e feio como tudo, ao contrário do rapazito em questão. 

Nem sei. Sobrevivi por pouco, mas estou a conter-me há horas porque fiquei a morrer de vontade de lhe dizer que descobri que ele tem um sósia brasileiro com cara de marroquino, mas se há coisa que não tenciono fazer nos próximos vinte anos, é falar com ele. Valha-me deus. Se não fosse o orgulho ser mais forte, nem sei o que era de mim.

quando a boa ação do dia falha

Uma excelente definição de tortura é, provavelmente, ir ao mac e depois passar meio ano, de tabuleiro na mão e a comida espetada mesmo à frente da cara, à procura de um sítio para assolaparmos o cu e comermos que nem duas porcas. Ora, exatamente por isso, apenas por isso e não por os rapazinhos serem giros que eu sei lá, assim que eu e a patrícia acabámos de comer, prontificámo-nos a chamar os ditos moços, repito, giros que eu sei lá, para ficarem com a nossa mesa.

No momento em que levantamos real peida da cadeira e começamos a lançar o sorrisinho introdutório aos gajos, chega um tanque de guerra, sabe lá deus vindo de onde, lança um desculpem a invasãaao, abrutalhado e assolapa-se na mesa. 

Abraçámo-nos uma à outra e chorámos a tarde toda. A vida não é justa mesmo.

quasimodo, where are you?

Acho que há mentiras, que todos nós sabemos que são mentiras, mas acreditamos porque nos faz bem acreditar em qualquer coisa. E também acho que a mentira preferida da maior parte das pessoas, é essa de que o amor é cego e a aparência não importa.

Essa é uma ideia bonita e bastante apaziguadora para os que, como eu, estavam do outro lado do mundo quando a beleza foi distribuída, mas é falsa. Mais de metade desses que passam a vida a dizer que o que importa é o interior, a não ser que estejam a falar do interior da vossa carteira ou conta bancária, estão a mentir. Ou então, o vosso interior está revestido de um corpo escultural e um par de mamas XXL. Grande parte desses moralistas, eram incapazes de namorar com alguém que considerassem feio. 

E depois ainda esperam que eu tenha autoestima. Pois, claro.

dramas

Os meus pais demoraram anos a deixar-me ter um gato, e a minha mãe chegou a tentar convencer-me a desistir da ideia de ter um bichano e contentar-me em escolher um pássaro - e eu juro que as minhas histórias com pássaros nunca tiveram finais felizes.

Poucos meses depois de dom kiko ter vindo morar cá para casa, começaram a chegar mais e mais gatos e, quando dei por mim, tinha oito. Claro que isto para mim é a alegria total, ainda que parte deles só venha cá comer e não se deixe agarrar - e o clã tenha sido reduzido a sete depois do atropelamento de um dos bichinhos. Mas tudo bem, os meus pais quase que lidam bem com isto, na esperança de que não chegue mais nenhum.

Ontem, descobri que uma das gatas está grávida outra vez. Temo que os meus pais me entreguem para adoção para continuarem a sustentar a gataria.

repost.

Numa era de mudança como esta que atravessamos, parece-me mais do que justo começarmos a considerar seriamente a hipótese de, mais tarde ou mais cedo, nomes como instagram passarem a representar uma entidade divina qualquer que veio ao mundo para nos salvar.

Parece-me mais do que justo. Afinal, graças ao instagram, toda a gente decidiu mudar de vida e passar a ingerir apenas comida saudável, começar a ir ao ginásio, e até comprar louça xpto para mostrarem ao mundo que vivem bem e que têm talheres que parecem ter pertencido à rainha de inglaterra. Já para nem referir o facto de as pessoas estarem todas muito mais bonitas e terem começado a vestir-se como bonecas, nem que seja para ir despejar o lixo.

Nunca vou perceber isso, mas tudo bem. No instagram toda a gente é muito feliz, toda a gente é muito gira, toda a gente vai a sítios fixes e encontra celebridades no meio da rua. Só eu é que parece que, nem que use os filtros todos ao mesmo tempo, continuo a ser feia, gorda e pobre. Se calhar a culpa é minha. Acho que sou eu quem não sabe usar aquilo.

segredo



Apesar de fazer passar uma imagem de má para quem me conhece, tento ser o mais simpática possível com desconhecidos. Nunca se sabe quando é que o nosso sorriso não foi a melhor coisa do dia deles.

sobre isso do sentir

Gostar de alguém, nunca é o problema. O problema é de quem se gosta, e o que fazemos com isso.

Disseram-me um dia que era preciso ter calma. Que o importante era aprender a esperar e não nos tentarmos apoderar de um coração de uma só vez; há que manejá-lo, dia após dia, nas pontinhas dos dedos, e esperar que ele se nos entregue de livre vontade. Mas eu nunca fui capaz de o fazer. Por mais que tente contrariar essa tendência, sinto que começo a elaborar o meu plano de fuga aproximadamente trinta segundos após perceber que gosto de alguém, para não me permitir sequer a ganhar a ilusão de que há alguma coisa a fazer.

Torno-me fria, torno-me esquiva - e isto é só para usar palavras bonitas, porque a realidade é que me torno estúpida, mesmo. Tenho tanto medo que me descubram, que me escondo bem de mais. Faço de tudo para que não percebam como me sinto realmente, custe o que custar. Porquê? Nem eu sei explicar. Acho que, com o tempo, acabei por me convencer mesmo que sou uma aberração e que não tenho o direito de sentir como as pessoas normais. Que não sou digna de dizer gosto de ti sem ser gozada porque, com a minha idade, já devia ter compreendido que isso é exclusivo de pessoas bonitas. E por mais deprimente que isto vos possa parecer, juro que é verdade.

O mal é mesmo do que se faz quando se gosta, porque perdemos a noção das coisas. E eu, sempre tão desajeitada nisto do sentir, não sei ter calma, não sei ter meios termos, não sei fazer nada pela metade. Se num dia enterro num buraco bem fundo aquilo que sinto, no dia a seguir canso-me de fingir que gostar de alguém é um crime e atiro-me de cabeça. Porquê? Também não sei explicar. Acho que me canso de fazer de conta que não sinto, que não me importo, que não gosto - mas depois não sei lidar com isso porque não sou capaz de me habituar à ideia de que alguém saiba que é capaz de me levar onde quiser. Ou, principalmente, porque continua a magoar-me a ideia de haver alguém que, com a perfeita consciência de que me tem nas mãos, decide deixar-me cair. Ou empurrar-me.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

ai o anonimato, patrícia

No dia em que decidi tornar o blog invisível para vocês, estava mesmo determinada a não voltar. Estava tão determinada a encerrar este capítulo da minha vida, que nem me dei ao trabalho de aqui voltar. Achei que era desta. Mas não dá.

Começar do zero é muito giro, escrever onde não há parasitas a ler é muito giro, mas não é o meu blog. É aqui que eu pertenço, é aqui que eu gosto de me humilhar publicamente, de vos fazer sentir normais. É aqui que eu gosto de ser eu, porque é aqui que as pessoas me conhecem pelo primeiro nome e já sabem que não dou muitas confianças a ninguém, nem sou a seguidora adorável que responde a todos os comentários and so on mas, mesmo assim, voltam cá. E é de quem gosta do que eu escrevo que eu quero por perto. E de quem não gosta, também.

Podia dizer-vos que vou restringir este ou aquele assunto, que vou evitar falar sobre aquilo que não me convém que se saiba, mas sei que não vou conseguir fazê-lo. Se perceberem, azar. E que nada fique por dizer, que nada fique por esclarecer, que nenhuma ida para o caralho fique por recomendar. Estou aqui, onde me podem chamar patrícia, eventualmente cinderela e, de vez em quando, alfredo ernesto, e estou disposta a atirar-me aos lobos outra vez e escrever o que me apetecer, sobre o que me apetecer e, sim, sobre quem me apetecer. 

um pé aqui, outro lá

Acho que vou voltar para o meu antigo blog. Por mais que me sinta muito mais livre aqui para falar do que quero, não o sinto meu. Tentei, mas não está a resultar. 

estava tudo bem

Fiquei a morrer de saudades disto. Não sei se fico, mas olá alforrecas!

segredo



Tenho um medo irracional de vir a sofrer de alguma doença grave.

pintar com palavras - o homem do restaurante

Entre o momento em que ele se sentou à mesa e aquele em que, aliviada, me levantei, apanhei-o a observar-me diversas vezes. O diabo que me perdoe, mas o homem só me fazia lembrar do bin laden, e os olhares que me lançava ainda ajudavam à festa - foi assustador. Não consegui perceber se ele achava que aquilo estava a ser sensual ou se me estava só a rogar uma praga, mas eu preferia almoçar sem a sensação de que alguma coisa vai explodir à minha volta. Obrigada.

pintar com palavras

Apesar de já ser uma veterana nisto dos blogs, nunca fui de rúbricas, nunca fui de desafios, nunca tive essa vontade de anunciar agora-todas-as-quartas-corto-as-unhas-dos-pés-às-nove. Nunca me apeteceu, pronto. Mas ontem tive uma ideia de que, se bem me conheço, me vou cansar em menos de nada. Ainda assim, é uma ideia.

Tendo em conta que o meu talento para desenho é muito pouco superior ao dos putos de cinco anos com uma deficiência qualquer à vossa escolha - mandem-me para o inferno, vá! -, e tirar fotos a estranhos já é stalker a um nível demasiado avançado até para mim, vou descrever-vos pessoas, momentos, sem grandes justificações. Sem dia fixo, sem hora marcada - quando me apetecer, quando alguém me captar a atenção. Me aguardem.
9 de janeiro de 2009

Meu querido rodolfo,

Há muito tempo que tento exprimir os meus sentimentos, mas este nó no meu peito não me deixa. Sei que te tenho magoado, mas enfim... falta de coragem. Só quero que saibas que gosto de ti muito mais do que como um simples amigo. Tudo o que faço é pensar em ti, e quando não te vejo a minha vida não faz sentido. Passei tempo de mais com medo de admitir os meus sentimentos, mas ainda assim tenho esperança que o nosso amor consiga superar isso. O amor e a distância não combinam. Por favor, dá-me mais uma oportunidade. Temos de viver o dia de hoje porque o de ontem é passado e o de amanhã ainda não existe.

Da tua popotinha.

Não me perguntem quem é o rodolfo nem porque é que eu, no alto da inocência dos meus 13 anos, decidi assinar como a tua popotinha, porque eu não sei que tipo de drogas andava a consumir na altura. Mas encontrei composições minhas que são bem capazes de denunciar o meu atraso mental profundo - e a minha tendência para o desastre! - mesmo à mais distraída das criaturas. Agora é só ganhar vontade para as transcrever. Só isso. Só.

devaneios

[não é amor, porque eu acredito no amor nem tive tempo para te amar. não quis ter tempo. mas estive a pensar e acho que já não estou chateada contigo por aquilo que me fizeste porque estou muito mais chateada comigo mesma por aquilo que nos fiz. tu és incrível. perdoa-me, mas sempre te achei demasiado para mim; és a pessoa mais incrível que eu algum dia conheci e, quanto mais penso nisso, quanto mais me lembro de tudo o que já fizeste, de tudo o que queres fazer, mais me apercebo do quão enorme tu és, do quanto tu mereces o mundo, do quanto eu gosto de ti. e do quanto é altamente improvável que, podendo ter o mundo, me fosses escolher a mim. logo a mim, que não tenho nada para te oferecer. desculpa, não sei se acredito nisto, mesmo com todas as provas. mesmo com o mundo a conspirar a nosso favor. como posso ter eu remado contra nós? tu és incrível. já disse? ah, mas digo outra vez: tu és incrível e eu tenho pena de não me ter permitido a ver isso a tempo de não te ter deixado escapar. e o pior é que, no fundo, eu sei que não posso ir embora já, que ainda te posso tentar recuperar, mas o meu orgulho não deixa porque nunca fui atrás de ninguém. estou cansada de ir atrás, percebes? mas eu gosto tanto de ti, que te perdoo o mal que me fizeste pelo mal que te fiz. desculpa-me. desculpa-me e deixa-me dar-te o abraço que te neguei naquele dia - não te contei, mas assustei-me. fugi-te porque me assustei com a tempestade que se tinha levantado no meu peito. não era suposto, juro que eu não queria, mas já gostava de ti nesse dia. desculpa não ter sabido dizê-lo. desculpa ter-te deixado ir. e eu prometo tentar não fugir outra vez, prometo tentar ficar - mas se eu não conseguir, puxa-me. puxa-me para ti e não me soltes mais; dou-te mil e uma oportunidades, desde que alguma te faça voltar. prende-me a ti. juro que nada me fará mais feliz.]

boa, alfredo

O meu problema é que eu estava a planear ter esta semana inteirinha para chegar onde queria na matemática e começar a estudar a sério para biologia. Qual quê? Nem um dia em casa. Nem um único dia. Nicely done.

terça-feira, 15 de abril de 2014

expelliarmus

1. ouvir um sermão de dona mommy à uma da manhã, a meu ver, sem razão;
2. passar à frente de uma loja de decoração e lembrar-me do meu amor por quadros e da necessidade de substituir um do quarto porque está meio estragado;
3. entrar na loja e ir ver os ditos quadros;
4. apaixonar-me, ver que saem em conta, mas não comprar nenhum para não gastar dinheiro;
5. encontrar umas almofadas, giras que só elas, que eu sabia que dona mommy queria há séculos;
6. pegar em duas, sem pestanejar;
7. perceber que ia gastar mais dinheiro do que se comprasse o quadro;
8. hesitar, mas trazê-las, ainda assim;
9. aproveitar o mau humor de dona mommy para lhas dar;
10. eu ralho contigo e tu ainda és fofinha para mim.


Ao menos sou boa a desarmar. Valha-me isso.

e com um casal ao pé

Eu sei que não tenho muito amor à vida quando dou por mim no comboio, sozinha, a ouvir adele. Eu. A ouvir adele no estado em que tenho andado. Oh, i daaare you to lemme beeee youuur one and oooonly. Isso.

o zoo da blogosfera

Pois parece que o desafio da click click esta semana é mostrar a bicharada cá de casa.



E é assim que vos apresento dom kiko, o meu gato.

Qualquer pessoa que me conheça há mais do que dois minutos é capaz de dizer que eu sou doida por gatos; conta-se que, em pequena, andava sempre toda arranhada mas, ainda assim, não largava os bichos. O problema é que sô dona mommy é alérgica e eu tive de esperar anoooos até que me deixassem ter um exemplar destes em casa.

O kiko mora cá há quase dois anos e foi o primeiro de oito que decidiram passar a ser meus. Não co-habitamos porque não queremos matar a mãe, mas alimentamos os bichos e eu vou-lhes fazendo festinhas sempre que possível. E, claro, este é o único que tem livre trânsito para passear o cu cá em casa. O resto da gataria tem de se contentar com o pátio e o terraço mas, anyway, são os meus bichinhos.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

sério

Apesar de adorar animais, tornar-me vegetariana nunca foi sequer uma hipótese, tendo em conta que obesa que é obesa come carne até rebolar. Contudo, ontem experimentei o real sentimento de culpa; comi coelho ao almoço. Ou melhor, obriguei-me a comer coelho ao almoço, mas não conseguia tirar da ideia o facto de andar há uma eternidade a tentar convencer dona mommy a deixar-me ter um. De estimação.

Não não não. Tragam-me porco, tragam-me frango, mas os coelhos são demasiado fofinhos para serem comidos. Só isso.

sou um bocado estranha

Ter psicologia no 12º ano foi, possivelmente, uma das piores escolhas da minha vida. Não que não tenha gostado da disciplina em si, mas desde que fiquei a conhecer o amigo freud e o que ele pensava sobre os sonhos, tive a certeza de que sou um ser com perturbações gravíssimas.

Esta noite, sonhei com um amigo do moço que me perseguiu 3 anos - joão, para quem cá anda há mais tempo. Sonhei que ele estava num café da minha rua, onde eu nunca meto os pés mas onde, por acaso, nesse dia tinha decidido ir. E então eu fiz de tudo para ele me ver, porque queria que ele contasse ao joão para o irritar; consegui o que queria. Depois de uma troca de olhares, reparei que ele estava com a avó, e que estava muito chateado a dizer fogo, vó, tu disseste que havia um concurso de peidos e que eu conseguia ganhar!, enquanto a velha respondia eu achei que tu eras capaz.

Voltar a vê-lo vai ser qualquer coisa.

domingo, 13 de abril de 2014

assim você me mata

Love is fragile. And we're not always its best caretakers. We just muddle through and do the best we can. And hope this fragile thing survives against all odds.

the last song 

hoje é um deles

Há dias em que adormeço com um nó na garganta, ciente de que não há mais nada que eu possa fazer - e dias em que acordo com uma esperança renovada e ainda acredito que o que fiz tenha sido suficiente para, lá para o fim, mudar as coisas. Só não sei muito bem o que fazer até lá.

late

De todas as coisas que te queria dizer neste momento, julgo que escolheria simplificar e pedir-te desculpa. Desculpa - é a palavra que mereces ouvir. A palavra que tantas vezes me saiu da boca, mas nunca pelas razões certas. Eu devia ter percebido antes. Devia ter compreendido.

Passei meses a admirar-te em segredo, num segredo profundo que não ousava contar a mim mesma, incapaz de assumir que tu és realmente incrível, que és a melhor pessoa que alguém pode querer ter por perto. Continuei a dizer a toda a gente que eras um excelente amigo mas que não passavas disso, que eras como um amigo gay. Juro que ainda não sei como consegui passar meses a ignorá-lo, como consegui ignorar cada batida mais forte, cada momento de ansiedade quando sabia que ia estar contigo. Passei meses a fazer de conta que não sentia nada, só por achar que não era natural sentir algo tão forte por outra pessoa que não o joão. E deixei-te ir por isso. Não, fiz pior do que isso - obriguei-te a ir.

Ainda me custa acreditar no que te fiz. Ainda me custa crer que, inconscientemente, tudo isto tenha sido causado por mim. Nunca te quis afastar - soube-o no dia em que te começaste a afastar. No dia em que soube que fui eu quem te afastei com o tempo - achei que não querias saber, achei que não era importante para ti, mesmo com todas as provas em contrário. E era tudo tão fácil, tão natural, quando eu estava contigo, que nunca me vou perdoar por te ter largado a mão enquanto o abismo se formava entre nós. Eu devia ter-te puxado. Devia ter sabido dizer-te que te queria ao meu lado. Não disse; deixei-te ir, e agora não voltas mais.

Desculpa. Desculpa se não te soube ouvir com a atenção necessária para perceber o que estavas a dizer, por não ter percebido na altura o que se estava a passar. E, sobretudo, desculpa por me ter obrigado a passar-te para segundo plano, a fazer de conta que o que sentia por ti era só admiração por aquilo que és. Desculpa por nunca te ter sabido mostrar o quão importante és para mim - mas eu tenho sentido a tua falta todos os dias. E, mesmo agora que o que restava da nossa amizade parece querer morrer, posso dizer-te que me fizeste bem como nunca ninguém me tinha feito sentir antes. Obrigada por isso. Obrigada por teres entrado na minha vida, e desculpa por eu não ter sabido manter-te nela.

agora,

Pelas minhas contas, esta deve ter sido a 989398ª vez que vi o the last song mas, mesmo assim, tenho a sensação de que chorei ainda mais descontroladamente do que em todas as outras. Valha-me deus. 

sábado, 12 de abril de 2014

outro rival da afrodite

Deixei de deprimir com as fotos que vejo no fb no dia em que vi as fotos de um rapazinho que tem explicação comigo; pele perfeita, sem uma única mancha, ar adorável. O que ninguém conta é que, ao vivo e a cores, o moço é todo bexigoso e tem mau hálito.

O meu mal é ser pobre e não tirar fotos em agências todas xpto, porque está mais do que visto que o photoshop é o melhor anti-borbulhas do mercado. Não há cu que aguente!

a terceira perna

Não queria ser eu a dizer isto, mas o gajo que decidiu chamar fiambre da perna extra ao fiambre - da perna extra! -, tinha um sentido de humor incrível. Isso ou era demasiado inocente; das três, duas.

ainda das compras

Apesar de já estar mais perto dos 19 do que dos 18, continuo com a sensação de que as pessoas não me vão levar a sério, de que pareço demasiado pita para pegar num carro e ir ajêtar a minha bida. Não que seja propriamente baixa, mas se já acho que ao olharem-me para a cara se vão perguntar se terei idade para conduzir, ao ouvirem a minha voz vão ficar com a certeza de que eu ainda devia usar cadeirinha.

Para confirmar as minhas dúvidas, enquanto estava na caixa, já pronta para pagar, a empregada pergunta-me, meio chocada:
- mas tu estás sozinha?!

...
...
...

Oh, vidas difíceis!

diagon-al

A mommy cá de casa fez-me uma lista interminável e mandou-me às compras, naquela de ver como é que eu me desembrulho - ficou surpreendida com a minha rapidez, toda orgulhosa por a cria ter dado conta do recado sozinha.  

O que eu não lhe contei foi que ir às compras sozinha pela primeira vez foi estranho como o caralho. Don't get me wrong, já entrei no supermercado outras vezes longe das saias da mamã, mas nunca para comprar tantas coisas que, a meio da lista, já mal conseguia controlar o carro, o que imagino que dava a certeza às pessoas que eu tinha um atraso mental qualquer, combinado com um atrofio ao nível dos membros inferiores. 

Paranóica que só eu, achei que toda a gente acabaria por compreender que era a primeira vez que eu comprava este mundo e o outro sozinha, porque me sentia completamente alienada e sem saber bem para onde ir; dei três mil voltas ao recinto, atirei tudo para dentro do carro e vim-me embora, não sem antes quase ter dado com o carrinho no cu de um gajo gostoso que eu sei lá. Pena não lhe ter batido mesmo; se ele me caísse para o carro, trazia-o também, só por causa das tosses.

apedrejem-me

Não fui à viagem de finalistas. Nem no ano passado, nem este ano; não fui. Apesar de me parecer que os bosses cá de casa não me deixariam ir, certos de que me atiraria de uma varanda a meio da noite, posso dizer que foi uma escolha mais minha do que deles, porque realmente nunca tive um pingo de vontade de gastar à volta de 500, 600€ - contando já com o que acabaria por gastar por lá - numa semana. Não assim.

Não digo que seja mau, não digo que não acabasse por ser memorável, mas acho um exagero tendo em conta que se faz pouco mais do que beber e curar a ressaca a tempo de voltar a beber, and so on. Se o único intuito é beber até cair, posso resolver o assunto com cinco litros de vinho a martelo, comprado no lidl, e ir dançar nua para o meio da rua, que sempre sai mais barato e entretém os vizinhos.

E sim, shame on me, preferia mil vezes mais uma viagem que investisse na cultura, que visasse visitar museus e monumentos, do que derreter imenso dinheiro aos meus pais só para passar uma semana a sair à noite enquanto tento experimentar a sensação do coma alcoólico. Sou um bocado chata, sei.

a reforma de afrodite

Depois de uma longa meditação, concluí que há uma nova deusa da beleza, capaz de transformar qualquer camafeu numa pessoa bonita, mas que insiste em deixar o seu cunho pessoal no canto da foto, assinando retrica.

Não se iludam porque, segundo um estudo realizado por mim, 98% das pessoas que tem fotos dessas, parecem bonitas mas 94,6% são portadoras de uma beleza algures entre a estimada betty grafstein e a belle dominique.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

e agora?

Ter noção de que a culpa é toda minha, é horrível. Horrível e reconfortante ao mesmo tempo - se fui eu que fiz, também devo conseguir desfazer, não é? Talvez  não. Talvez já não. Ou talvez não já. Mas vou tentar... ou já tentei. 

quando eu digo que sou distraída

Como a viagem era curta e não me apetecia andar de malinha atrás, levei a carteira, o telemóvel, as chaves de casa e a chave do carro na mão. Assim que entrei, espetei tudo no colo da patrícia porque não me apetecia assistir ao vira dos meus pertences no tabelier; preparei-me para meter o carro a trabalhar. A chave não estava na ignição, não estava no colo da patrícia, não estava no meu bolso. No meu íntimo, já só imaginava cenários desastrosos e lembrava-me de um livro que li há uns anos onde as coisas que desapareciam misteriosamente nunca mais apareciam, e ai jesus que vai tudo com o caralho porque o carro nem é meu e... fez-se luz.

Abri a porta, tirei a chave do lado de fora e meti-a logo na ignição antes que a metesse noutro sítio qualquer. 
Vou ser gozada para todo o sempre.

triste que só eu

Gostava de me poder orgulhar de ser daquelas pessoas que parecem ter um talento inato para desempenhar qualquer tarefa, mas tal não acontece. Estão a ver aquelas personagens nos filmes a quem tudo acontece, que fazem tudo tão errado que só dá para rir? Yup, that's me.

Ao fim de quatro meses de carta, ontem foi a primeira vez que tive de meter combustível sozinha. A primeira vez que me coube a mim posicionar o carro de forma a chegar com a mangueira ao depósito - não parece difícil, mas deu pano para mangas. Isto porque, de certo, a inteligência não é o meu forte e, com o medo de deixar o carro a três quilómetros da bomba, esqueci-me de que iria precisar de espaço para meter os pés entre a dita e o veículo. O resultado? Tive de subir para aquele degrau onde estão as mangueiras para conseguir abastecer, o que teria sido uma excelente ideia se se tratasse de um camião, mas não quando estamos a falar de um ligeiro. E lá estava eu, de mangueira em punho, muito cheia de mim, toda orgulho, de cu para o ar. Repito: de cu para o ar.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

na alegria e na tristeza...

Ao telefone com a patrícia, uma a deprimir de cada lado, envio-lhe uma foto com um grupo de gajas:

(...)
- estás a ver a de cor de rosa? - tratava-se de uma gaja obesa com cara de homem, assim bem parecida com a imagem que eu tenho da padeira de aljubarrota - disseram-me que é grande puta...
- AQUILO TEM SAÍDA?


... até que a morte nos separe.

wondering

Há mulheres que comem a própria placenta, e mulheres que compram a placenta de outras mulheres para comer. A sério, ter um monstrinho de berço já não é nojento que chegue?

gente boa

Por motivos que agora não importa revelar, ontem estive a falar mal de alguma coweguinhas do sexto ano com uma das únicas pessoas com quem continuo a falar desde essa altura - e acabámos, inevitavelmente, a falar daquela bola que sempre teve a mania que era mais do que os outros, sempre toda pirosinha, sempre toda cheia de si, mas que agora está uma bola, feia pra caralho, e ainda não reparou. Pois que quase cuspi as minhas próprias vísceras quando a dita mocinha se sai com um a única coisa que me lembro é que ela, no sexto ano, já depilava a zona toda e pintava as unhas. Nunca me passou pela cabeça odiá-la por ter a parreca depilada aos 11 anos mas... why not?

.

Sinto-me estranha, como se visse agora o mundo pela primeira vez; de certa forma, acredito nisso. Acredito nesses momentos de transição entre uma realidade e outra, acredito nestas pequenas mortes que vamos sofrendo ao longo da vida, e acredito que cada despertar depois de cada uma delas seja como renascer. Não estou certa de que alguém me consiga entender - não estou certa sequer de conseguir compreender isto quando, daqui a umas horas, o voltar a ler, mas é importante que escreva o que sinto para não me perder outra vez. 

Sinto-me estranha e sinto-me perdida, sem saber muito bem o que fazer a seguir. Cansada, também. Cansada por todas estas noites em que não consegui dormir, por todas as vezes que olho o relógio e acendo a luz do telemóvel, só para ter a certeza de que não há novidades. Cansada de fechar os olhos e inspirar com força de cada vez que o telemóvel toca e, de alguma forma, me encho de esperança de que seja a voz dele que eu vou ouvir do outro lado. Ainda que eu esteja cansada de que hoje, amanhã ou depois, ele não irá ligar. E ainda que isso me faça encher de raiva e ter vontade de engolir o orgulho - sei que não o vou fazer. Da mesma forma que sei que lhe vou fugir de cada vez que ele tentar falar comigo - porque é mesmo isso que se passa na minha cabeça: quero que ele venha falar comigo, mas não quero falar com ele. Quero acabar com isto, mas tenho medo que isto acabe. E eu sei o que tenho a perder.

Sinto-me estranha, perdida, cansada. Sinto-me mal, mas sei que passa - houve um bocadinho de mim que morreu hoje, mas amanhã renasce. Talvez mais forte, talvez mais assustado, mas renasce sempre. 

estranhamente, é de gente assim que eu gosto

Assim que soube que uma amiga comum ia estar hoje com o rapazinho, uma das três únicas pessoas que sabem da história toda, pedi-lhe um trilião de vezes que não lhe dissesse nada porque não fazia sentido arrastar outras pessoas para isto - mas por mais que tenha implorado, que lhe tenha mandado mais uma mensagem hoje só para ela não se esquecer de que eu não queria, de todo, que ela falasse, ela falou.

Não consegui ficar chateada com ela porque, no fundo, sempre soube que ela o faria - estava quase tão chocada, revoltada até, quanto eu. Mas, mais uma vez, ele conseguiu desiludir-me. Mais uma vez, conseguiu magoar-me.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

erros crassos

Acabei de descobrir que há poucas, pouquíssimas, coisas mais erradas do que eu não me pentear quando estou em casa. Neste momento, o meu cabelo parece o de uma barbie com uns quinhentos anos, valha-me deus.

terça-feira, 8 de abril de 2014

um par de dst's a todos eles

A eterna guerra dos sexos sempre foi coisa para me fazer um bocado de comichão. Há diferenças entre homens e mulheres, mas no final das contas somos todos a mesma coisa e já vai sendo hora de pararem com as queixinhas do período e das dores do parto contra a sensibilidade dos testículos e a barba e o caralho. Bom, mas em relação a mijar de pé eu concordo que estamos em desvantagem porque, pelo menos eu, sou incapaz de mijar fora da sanita sem acabar de pés lavados. Sou uma princesa, portanto.

Mas o post não é sobre as minhas preferências na hora de fazer xixi. O post é porque nos últimos dias tenho ouvido várias opiniões sobre a traição e não podia estar mais chocada com as respostas que tenho ouvido. Choca-me sobretudo que, em pleno século XXI, tenha ouvido diversas mulheres justificarem a traição dos homens com um ahhh, as mulheres hoje em dia são umas oferecidas e os homens têm necessidades que nós não temos

A sério? Então deixa ver se eu percebi: se uma mulher trair, ela é uma puta; se um homem trair, a puta é a mulher com quem ele esteve. Excelente. Nem percebo como é que não espetam uma alínea na constituição para deixar declarado por lei que as mulheres são as putas, aconteça o que acontecer. E outra para deixar bem claro que os homens têm necessidades, e portanto têm direito de enfiar a pila onde bem lhes apetecer sem dar satisfações a ninguém. Necessidades.

Como é que alguém ainda pode pensar assim? Como é que ainda há mulheres que se deixam humilhar a este ponto? Mas como? 

still don't know how

[faz hoje um mês. odeio este meu lado que parece ter uma tendência enorme para lembrar tudo o que devia estar mais do que esquecido - mas é-me impossível não pensar que faz hoje um mês que eu descobri. ou desconfiei. antes não tivesse acontecido. nem eu vos saberia dizer como é que fui capaz de não perceber que havia algo de errado no meu peito de cada vez que ele se aproximava, de cada vez que ficávamos sozinhos, de cada vez que falávamos sobre nada. não sei como não percebi logo que todo o meu entusiasmo à volta de ir passar a noite com ele era muito mais do que amizade - mas, se calhar, se não tivesse havido um contratempo que arruinou tudo e ele acabou por não ir, ainda hoje acharia que era apenas isso mesmo. mas não era. descobri-o nessa noite, faz hoje um mês. estava tudo bem até ter ouvido a voz dele ao telemóvel a dizer que não podia ir - sinceramente, quase me apeteceu chorar. fiz de conta que era só raiva por ele não ter dito antes, mas era bem mais do que isso - estava desapontada porque eu o queria lá. e passei a noite inteira a pensar nele; se ele tivesse ido, ter-se-ia sentado ao meu lado ao jantar. se ele tivesse ido, teria ocupado a cadeira ao meu lado no cinema. se ele tivesse ido, teria passado o filme todo encostado a mim no sofá. se ele tivesse ido... teríamos dormido juntos. quase não preguei olho a noite toda. fiquei tão assustada quando percebi o que estava a sentir, que demorei quase duas semanas a contar a alguém. e daí para cá, tem acontecido tudo tão depressa e, ao mesmo tempo, parecem ter passado mil anos - custa-me a crer que só agora tenha passado um mês. pudesse eu voltar atrás, pudesse eu ter descoberto a tempo ou não ter descoberto de todo. não sei o que aconteceu, não sei como aconteceu, mas agora parece que só resta dor, que só resta arrependimento, desapontamento. a culpa é minha desta vez. a culpa é toda minha. tivesse eu percebido antes.]

segunda-feira, 7 de abril de 2014

sintam-se felizes

Não sei como é que isto funciona com as outras fêmeas, mas além da tinta, do shampô e do amaciador, o meu cabelo tem ainda a sorte de apanhar com creme, base, pasta de dentes, e tudo o que mais se possa imaginar, porque eu, definitivamente, não nasci para ser uma lady. Para contrabalançar, ontem dormi fora de casa e a puta da lâmpada da casa de banho fundiu-se - quando dei por mim, estava à beira de meter creme de barbear na escova de dentes. Se se sentirem na merda, lembrem-se de que eu existo e sou mil vezes pior do que vocês.

ponto da situação

A minha vida social está no auge, agora que me passei com o rapaz e me apetece fazer pouco mais do que enrolar numa concha e chorar noite e dia porque eu tenho oitenta anos e tenho toda a razão quando digo que isto é o fim do mundo. Ok, não. Mas ainda hoje é o meu primeiro dia de férias e já comecei a trocar os dias pelas noites - estudei até às duas e quase não dormi até amanhecer. Para quê ir para calpe quando posso ficar na minha sauna privada? Eu até adoro passar a ferro. Pois. Adoro.