quinta-feira, 17 de abril de 2014

sério

Aproximadamente quarenta e dois segundos após me ter acomodado no comboio, de fones nos ouvidos e livro no colo, entrei noutra dimensão e deixei de ver o que quer que fosse à volta, até acabar o livro; quando levantei a cabeça, comecei a hiperventilar, e tive a certeza de que aquele era o meu fim. Sentado ao meu lado, estava aquele que eu estava capaz de jurar ser o rapazinho, que por acaso é das últimas pessoas que me apetece ver neste momento. Só podia ser ele; de perfil, era igual. Tinha os mesmos tiques, a mesma forma de estar, gesticulava como se o gajo com quem conversava fosse surdo. Até que decidi, finalmente, meter a música em pausa e, com o coração na garganta, tentar ouvir a voz do bicho - era brasileiro. E, depois de uma eternidade a olhar para ele, cheguei à conclusão de que era meio encardido e feio como tudo, ao contrário do rapazito em questão. 

Nem sei. Sobrevivi por pouco, mas estou a conter-me há horas porque fiquei a morrer de vontade de lhe dizer que descobri que ele tem um sósia brasileiro com cara de marroquino, mas se há coisa que não tenciono fazer nos próximos vinte anos, é falar com ele. Valha-me deus. Se não fosse o orgulho ser mais forte, nem sei o que era de mim.

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