domingo, 6 de julho de 2014

ser gaja é

Durante muito tempo, quase rosnava ao gajo quando ele se tentava aproximar - não conseguia acreditar nele, estava mais do que convencida de que era só mais uma. 

Passei a confiar um bocadinho mais quando me dei conta de que já lhe tinha dado tampas que chegam para uma cadeira de rodas e, mesmo assim, o pobre continua a vir atrás, feito cordeirinho manso, mesmo amuado, mesmo a tentar fazer-me ciúmes, mesmo a mandar indiretas sobre o facto de eu não querer saber dele. 

Claro que eu sou gaja e então as coisas não funcionam bem assim - ontem, ele disse-me que um amigo dele, que se andava a fazer a uma amiga minha há três séculos e meio, tinha levado uma tampa de outra gaja qualquer. Odiei a naturalidade com que ele contou aquilo, como se achasse muito natural que o rapazinho andasse a lançar a rede a duas gajas ao mesmo tempo. Antes que ele, ou eu, percebesse porquê, amuei, comecei a falar mal e arranjei uma desculpa para desligar. Não lhe voltei a falar bem o resto do dia porque só o imaginava a fazer o mesmo e meteu-me nojo.

Sim, ser gaja também é isto - fazer deduções (pouco) lógicas e chegar a conclusões que vos metem um par de patins na hora sem nunca vos explicarmos o porquê. Somos uma espécie fodida.

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