domingo, 5 de abril de 2015

esses dias menos bons

Há dias em que me sinto um desperdício de tempo; tenho uma certa inveja das pessoas que me parecem felizes a tempo inteiro enquanto a felicidade não me é mais do que um part-time mal pago e de onde sou cada vez mais dispensada. Nunca me parece justo - olho à volta e toda a gente me parece tão bonita e tão feliz. E depois estou eu aqui, e sou só eu. E sou só isto.

Neste momento, o que me chateia já nem é o dito problema de saúde recém descoberto - é tudo o resto. É tudo o que eu vou ouvindo, todos os vais-ter-de-ter-cuidado-com-isto, todos os não-podes, todos os não-deves. Tudo o que me condiciona - e eu sou tão novinha para ter a vida condicionada. Porque é que tem de calhar sempre a mim?

Não sei se foi o vosso deus quem me abandonou ou se sou eu que me estou a abandonar a mim mesma - estou cansada de nunca estar bem, de haver sempre algum problema novo para descobrir. De todas as respostas tortas de médicos que me acham demasiado nova para estar doente, e de todos os outros que me franzem o sobrolho e dizem que tenho uma situação clínica complicada e não entendem de onde vem o meu problema. De todos os que não sabem nem querem saber, e me deixam a arrastar, a piorar. Dos problemas de saúde que escondi anos a fio, e continuo a esconder, porque ninguém entende de onde vêm e me é demasiado difícil falar sobre eles. E tudo o que eu queria era uma cura. Queria uma cura e a possibilidade de voltar a ter uma vida normal, sem constrangimentos, sem limitações. Queria, se não fosse pedir muito, conseguir sentir-me realmente a miúda quase-nos-vinte que sou. Mas não consigo.

Há dias em que eu nem penso nisso. Sorrio, gozo comigo mesma e finjo que não me importo. Mas há outros, cada vez mais frequentes, que eu me sinto realmente pequena para mim mesma, em que preciso de colo. Em que preciso de mimo, de um beijo na testa e a promessa de que as coisas se vão compor e um dia destes eu vou conseguir ter uma vida normal. Há dias em que eu só queria que me dessem paz. Que me abraçassem. Que me obrigassem a parar de fazer-me de dura e de indiferente, e que me mostrassem que de facto a minha vida até vale a pena para alguém. Que eu ainda valho a pena o esforço. Porque eu, sinceramente, acho cada vez mais que não.

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