sábado, 9 de maio de 2015

das voltas que o mundo dá

Há uma blogger que conheceu o cinderela logo nos primórdios da sua existência e afirmava ter-se apaixonado por ele; sendo ou não verdade, acabou por se tornar numa das minhas bloggers favoritas. Até que eu me transformei no ódio de estimação dela.

Nunca entendi - desconfio de ciúmes, dos ciúmes infundados que qualquer gaja sente de qualquer outra que seja próxima ao gajo de quem gosta; não fui capaz de compreender que mosquito lhe mordeu porque, de facto, nunca tive qualquer interesse pelo tipo em questão. Mas tudo bem.

Hoje fui ao blog dela - afinal, ela escreve bem que se farta mesmo - e li-a, e reli-me, e foi esquisito; apercebo-me agora de que, anos depois, estou na mesma situação em que ela estava e que na altura eu nunca consegui entender: era-me inconcebível que ela pudesse ter-se apaixonado daquela forma por alguém de longe e que, ainda por cima, regassem o sentimento e lhe dessem pés para andar; não era só mudar de número e bloquear o fb? Era. Não se cruzariam por aí, não esbarrariam um no outro com facilidade. E eu julguei absurdo. E eu julguei-a.

Um dia, aconteceu comigo. Não sei como - mas hoje, ao lê-la, senti essa pontada de solidariedade que nos abala sempre que dá aquela vontade de dar duas pancadinhas nas costas e dizer que ententemos; agora entendo mesmo. Entendo o que é querer ir embora porque faz mal, porque não faz sentido, porque não chega. Encarar o mundo de frente e fazer de conta que o que está longe da vista está realmente longe do coração; mas, a dada altura, assume-se de que é mentira, de que estavam errados esses que algum dia o julgaram verdade, e que o que está longe também pode estar mesmo perto, pertinho, do coração, pode ser a pessoa que mais queremos abraçar, pode ser a única voz que nos acalma. 

Passaram-se anos, para ela - tempo suficiente para eu me esquecer de tudo e voltar lá, mais tempo do que algum dia julguei possível. Para mim, é ainda uma questão de meses e algo me diz que preciso de sair disto antes que também me deixe arrastar durante anos, que acabe por ir ficando, que nunca seja mais nada porque estou bem a ser isto. Mas não é fácil arrumar as malas e sair quando somos incapazes de levar o coração connosco.

E isto dói, e é o saber que não gosto por ser fácil: gosto apesar de ser difícil, dificílimo, mas ir valendo a pena.

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