segunda-feira, 9 de maio de 2016

sans toi

Sabes quando não tens para onde ir mas, mesmo assim, sentes que tens de ir a algum lugar? Como se, de repente, o mundo se tivesse esquecido de que fazes parte dele - ou como se tu te tivesses esquecido de que fazes parte do mundo. Como quando a dor te consome e os teus sítios de sempre já não parecem nada teus. Como quando tentas ouvir aquelas que eram as tuas músicas preferidas de todos os tempos, mas elas deixaram de fazer sentido. Como quando te deixas levar na conversa dos outros, mas nada te interessa.

Sabes quando te perdes, assim? É como me sinto: não perdi o norte, perdi a vontade de o procurar. Não me apetecem as conversas banais, as frases feitas, as músicas tristes. Nem as animadas. Não me apetecem as noites frias onde me falta o calor da tua voz. Não me apetecem as mãos, desamparadas, sem terem onde agarrar. Não me apetecem as dúvidas, crescentes, dolorosas, assassinas: assassinas de mim, do meu eu. Assassinas da pessoa em que me tornaste antes de me teres abandonado. Assassinas desse eu mais feliz. Assassinas.

Foram as palavras, ou a falta delas. Foram as horas intermináveis a perdoar o imperdoável e a esperar que corresse bem. A fechar os olhos, não por pena mas por tanto gostar de ti. A deixar-me levar, por uma vez na vida, porque tudo parecia bem. Foram as palavras que geraram as dúvidas, nunca o contrário. Foi a ausência de palavras que nos trouxe aqui.

Hoje não me apetece escrever: escrevo por teimosia, como terapia para o espírito. Hoje apetece-me confessar-te que abandono o telemóvel onde calha, para depois me precipitar sobre ele, volta e meia, à espera de notícias tuas. Hoje apetece-me contar-te que sonhei contigo, que sonhei com a felicidade de te ver desfazer exatamente o que nos desfez. Sonhei que acabavas com a dor que me causaste há uma semana atrás - sonhei, imagina só, que ainda podíamos voltar a ser nós. Hoje apetece-me dizer-te que essa ideia me provoca um nó na garganta e os olhos marejados de lágrimas: hoje, a tua instabilidade parece-me perfeita, os dias assim-assim parecem-me os melhores, a tua existência na minha vida parece apenas um sonho pintado numa tela imperfeita. Hoje apetecia-me esquecer tudo e correr para ti. Hoje apeteces-me.

Tu na minha vida. Nós. 
Apetece-me.

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