terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

a sorte é ser tão simpático que eu nem consigo ser má

Passaram-se meses: foi num dia em que eu não tinha mais nada para fazer que lá cedi aos pedidos da criatura e aceitei tomar um café. Claro que o café converteu-se única e exclusivamente numa caminhada no meu sítio preferido e nem houve café nenhum. Mas foi mais do que suficiente. Na verdade, não era com ele que me apetecia estar.

O primeiro sinal de alerta foi a insistência em chegar-se para mim. É preciso que entendam que um cu deste tamanho não se manobra em espaços apertados e eu adoro conseguir andar sem o roça-roça constante dos ombros e ancas. Eu afastava-me, ele chegava-se mais. Voltava a afastar-me, voltava a chegar-se - and so on.

Não é que seja mau rapaz, que não é. É muito simpático e educado mas a conversa com ele é tão interessante que eu preferia estar sentada com um grupo de velhinhas a ouvir as avé marias na rádio. Não houve aquele click - mas tudo bem, podíamos ser amigos, certo? Nah.

Chegou a compaixão - começou a falar-me dos problemas dele e de como se sente sempre descartado pelas pessoas de quem gosta e eu verti três lágrimas interiores em sinal de concordância. There there, mate. O problema foi que eu me comecei a aperceber que, possivelmente, no encontro seguinte ele já me estaria a convidar para ir morar com ele, tal era o nível de carência do moço.

Outro erro fatal foi ter-me tocado - eu detesto que me toquem. E, quando nos sentámos num jardim e ele me tentou abraçar, acho que até me faltou o ar: é preciso que entendam que eu gosto muito de estar sossegadinha a respirar o meu oxigénio em paz, no meu espaço. Não há cá trocas gasosas com conhecidos, não há contacto físico sem confiança a sério. Chamem-me esquisitinha, mas sinto-me só estranha quando sou agarrada por alguém que não me faça sentir nada - adoro abraços sim, mas de pessoas de quem eu goste a sério. E se ele serviu para me dar algum click, foi para perceber que havia alguém que eu estava disposta a abraçar vezes sem conta.

Para me livrar daquilo mas sem querer feri-lo, expliquei-lhe que estava a meio de uma crise, que andava com os sentimentos baralhados e tinha muitas coisas para resolver antes de me poder envolver com alguém. Pensei que tinha resultado - mas ele voltou.

Perguntou-me se já tinha resolvido os problemas - já, e já arranjei mais, obrigada por perguntares! Expliquei-lhe que tinha tido outra pessoa na minha vida, a ver se entendia a indireta, mas nada resulta. Já nem as respostas à base de smiles, e sabe deus o quanto eu odeio que me respondam com smiles.

Temos de combinar alguma coisa!
Smile.
Hoje passei por onde andámos e fiquei com saudades tuas.
Smile.
Gostava de estar contigo.
Smile.

Andamos nisto há algum tempo e ele ainda não desconfia de que eu não vou ter com ele. Porque me tocou - e porque a única coisa de que eu gosto nele... é o gato.

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