sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

dos dias maus

Se é verdade que somos todos filhos de deus, eu aposto que sou a filha bastarda que ele despreza e castiga até mais não - especialmente nos dias de tpm, para se assegurar de que eu vou abrir as torneiras e chorar desalmadamente.

Acordei com uma mensagem pouco simpática: o tipo de quem gostei durante mais de dois anos teve um acidente de carro, para juntar ao de mota que lhe roubou a mobilidade do braço. Isto já é mau que chegue mas, para complementar a coisa, lembrei-me de que pensei nisto há uns dias. Quem é que imagina um gajo de quem gosta a ter um acidente de carro? Eu, por saber que ele não conduzia um carro adaptado. Estamos zangados, não conseguimos conversar, e eu fiquei um misto de arrepiada e preocupada.
Chorei.

Fui passar uma das minhas blusas preferidas a ferro - teria sido a terceira vez que a ia vestir, mas queimei-a antes disso. Pela primeira vez na minha vida, queimei uma peça de roupa a passar a ferro. E logo aquela!
Chorei.

Saí de casa. 
Estava bem disposta e ia a cantar a plenos pulmões, sozinha no carro. Estava tudo bem.
Depois apareceu um gato, à saída da autoestrada, que se lembrou de atravessar; entenda-se que eu sou o tipo de pessoa que já parou porque um passarito decidiu atravessar a estrada aos saltitos, eu já quase parei na autoestrada por causa de um husky, eu fiz sempre o que podia para não magoar nenhum animal - em mais de três anos de carta, foi hoje. Atropelei um gato, que é só o meu animal preferido. Pode ser uma estupidez, mas não me sai da cabeça o momento em que lhe passei por cima e o pobre do bicho a rebolar na estrada.
Chorei.

Fui entregar o cv a um veterinário. Estava lá um gato; olhei para o bicho e lembrei-me de que tinha matado um poucas horas antes. Fiquei carregada de culpa e a olhar para ele em jeito de I KILLED YOUR BROTHER!
Chorei.

Finalmente, sentei-me na cama. Tinha uma conversa pendente mas achei que seria algo tranquilo, não estava preocupada; demorei a conseguir ligar a net. Quando consegui, descobri que afinal havia pontos na conversa pendente capazes de me fazer sentir ainda mais merdosa. Como se não bastasse, o tipo fugiu dela e deixou-me a falar sozinha, por mais que lhe explicasse que isso só piorava e lhe tivesse tentado explicar que me faria mal ficar a imaginar o resto, tudo porque lhe falta coragem.
Chorei.
Bastante.

Tragam-me os chocolates, senão ainda digo um par de coisas de que não me vou orgulhar amanhã.

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