sexta-feira, 25 de agosto de 2017

a odisseia das entrevistas

Sabem quando vocês se candidatam a um emprego que vos entusiasma mesmo e ficam meio ansiosos à espera de uma resposta? Ahhh, eu sei! Esses são exatamente os filhos da puta que nunca vos chegam a responder, nem sim nem sopas. Mas depois os insólitos acontecem.

Na quarta feira, as limpezas aqui da gata borralheira foram interrompidas por um telefonema: um homem, com uma voz arrastada que eu diria que pertencia a alguém com o quadruplo da minha idade, informava-me que eu tinha sido selecionada, entre muitos candidatos, para a entrevista numa imobiliária. Fixe. O único problema é que eu nunca - ou vá, não me lembro - me candidatei a tal.

Como uma pessoa está naquela fase safoda da vida, em que tanto se vê a enveredar pelos caminhos da construção civil e tornar-se numa pedreira de palito na boca, ou de se transformar numa trapezista de renome e fugir com o cirque du soleil, decidi ir, ainda que me cheirasse levemente a esturro. E fui.

O primeiro drama começa na minha orientação perfeita: isso de sair do comboio e saber qual o autocarro que tenho de apanhar, reconhecer os números, os sítios onde páram, conhecer as ruas pelos nomes para poder dizer onde vou - a sério, é coisa do diabo. Tive sorte: o motorista era simpático e teve paciência para me aturar. Podia não ter tido, e nem ia fazer ideia onde que raio era suposto eu descer.

E depois, fazer tempo - aproveitei para ir pesquisar porque me ocorreu que era simpático saber ao menos a que raio me estava a candidatar. Encontrei um anúncio: talvez fosse aquilo. Devia ser - no entanto, já ia mentalizada de que a realidade não seria aquela.

Acabei por entrar na agência bem antes da hora marcada, e por fazer logo a bendita entrevista. Como mulher segura e confiante que sou, decidi começar por apresentar o meu cartão de visita mal cheguei, para que o homem se apercebesse de imediato que estava a lidar com uma atrasada mental: assim que se aproximou de mim, de manápula estendida para me cumprimentar enquanto dizia boa tarde, cheio de simpatias, eu levantei-me, apertei-lhe a mão e respondi: com licença! Mas a sorrir, porque sou uma retardada simpática.

Do resto da entrevista, há pouco a contar: desconfio sempre de quem faz tudo parecer demasiado fácil, demasiado bom. E as condições também não são coisa para me fazer sequer repensar na hipótese de me tornar numa deles - e, claro, nada a ver com o anúncio.

Já livre, fui até uma paragem de autocarros, de onde estava a sair um, já que eu não fazia a mais pequena ideia de qual teria de apanhar a seguir. Disse-me um senhor, que permanecia sentado no banco da paragem como se de um banco de jardim se tratasse, que era exatamente aquele que deveria ter apanhado, mas que daí a 15 minutos ele voltaria a passar.

E foi isto: o ponto alto do meu dia foi sentar-me ao lado de um senhor, com idade para ser meu trisavô, a observar as pessoas que iam chegando ao velório, do outro lado da estrada, e se cumprimentavam com o ar feliz e jovial de quem tinha passado a tarde na praia e a seguir ia mamar umas caipirinhas com os amigos. Tudo isto, à espera do sete. (shame on me, só conseguia pensar nisto)

1 comentário:

Marisa disse...

Dos belos random days da vida