quinta-feira, 14 de setembro de 2017

sobre a febre das corridas

Se, há 3 meses, me tivessem dito que em algum momento da minha vida eu iria publicar fotos minhas numa poça de suor e com o ar feliz de quem sente dores em músculos cuja existência desconhecia, ter-vos-ia chamado, no mínimo, parvos. Mas já o fiz, mea culpa.

Diz-se por aí que correr é moda - vivo melhor com isso do que com aquela dos ténis com pompons. Pouco importa o que leva alguém a calçar as sapatilhas naquele primeiro dia em que está mais ou menos certo de que vai correr 200 metros e cuspir um pulmão. O importante é que, ainda assim, as calcem e vão para a rua; quanto ao pulmão cuspido, relaxem e rezem para que o que sobra não salte fora nos 200 metros seguintes. Era chato.

Eu comecei quase por acaso. Durante muito tempo, preferi queixar-me da incompatibilidade dos meus horários loucos com os do único ginásio cuja mensalidade não me custava um rim e metade da família. Talvez por preguiça, talvez por ter ainda demasiado presentes as memórias daquela pequena lontrinha que não era capaz de dar duas voltas seguidas a correr ao campo da escola, descartei sempre a melhor e mais maravilhosa de todas as hipóteses: treinar às horas que bem me apetecesse e totalmente grátis. 

Provavelmente por estar cansado de me ouvir, um dia perguntou-me por que raio eu não começava a correr - nesse momento, foi como se tivesse visto a luz e descoberto a cura para todas as doenças e o caminho para a paz no mundo. Não que nunca me tivesse passado pela cabeça, mas faltava-me a coragem para começar - se não tivesse sido ele, ainda hoje andava por aí a choramingar pela falta de exercício físico. Eu não acreditava em mim, mas ele acreditou por isso safoda. Vim dar ao mesmo lugar.

Lembro-me do meu primeiro dia: saí do turno da noite, depois de 17 horas de trabalho, e fui correr. Ao fim de 15 minutos, tinha desistido da vida e estava pronta para tomar banho e enfiar-me na cama. Depois, nunca mais parei - minto. Esta era a frase perfeita, mas não é a verdadeira. Engonhei durante algum tempo. Senti-me estupidamente orgulhosa quando corri 20 minutos sem parar. E depois quando consegui fazer os meus primeiros 4km - deixei-me estar por aí. Já era um marco histórico na minha vida de lontra, e duvidava sinceramente que fosse capaz de mais.

E não é que era?
Frustrada por me sentir estagnada e demasiado lenta, procurei uma aplicação com um plano de treino diferente que me pudesse ajudar. Encontrei - faz hoje, precisamente um mês, e fez toda a diferença.
Se calhar eu nem precisava realmente de um senhor brasileiro a viver dentro do meu telemóvel e a dar palpites sobre como devo viver a minha vida mas, estranhamente, deu-me um novo fôlego e fez-me não desistir.

Descobri o prazer da competição contra mim mesma: todos os dias me tento superar, e todos os dias me surpreendo com essa versão de mim que vivia escondida por baixo das três mil camadas de banha - mais uma mentirinha. Também tenho dias maus, dias em que fico zangada porque não consigo cumprir o objetivo - mais do que o da aplicação, o meu. Outro há em que me dou ao luxo de meter a meta onde bem me apetece e fazer-me ir mais longe do que da última vez - hoje foi um desses dias. Eu não sabia que conseguia correr 5km, quanto mais 10! Mas sou. Caramba, este corpo, que tanto desprezei, é capaz de coisas que eu nunca pensei.

Não sou a melhor. Não tenho grandes ambições no que a provas diz respeito - tenciono melhorar-me a mim mesma, só. E, quando acabo um treino exausta, com dores em todo o lado, a gotejar suor, sinto-me tão bem que fui capaz de me tornar numa dessas pessoas que publica fotos nesse estado. Podem não ser as mais bonitas, mas é onde estou mais genuinamente feliz - o orgulho assenta-me mesmo bem.

2 comentários:

Anónimo disse...

olá bom dia entrei no teu blogue e gostei continua assim nas tuas corridas acredita que para alem da saúde faz bem a montes de aspectos da vida e depois de um dia de trabalho é bom. eu estive mais de 10 anos sem fazer desporto derivado a minha cegueira repentina e não ter amigos nem ninguém que me pudesse acompanhar e senti falta muita falta de fazer desporto nem que fosse uma corrida por brincadeira faz-nos sentir com uma alma nova no fim de correr pelo pouco que seja. e na minha idade já trintão mais noto o quanto me faz falta ter uma vida ativa e saudável. pior disto é mesmo as coisas da vida não ter amigos etc. mas infelizmente a vida é assim não seria vida se não tivesse algumas dificuldades que ultrapassar. desculpa os erros dou muitos desde que fiquei cego se por acaso quiseres falar comigo fica o meu mail smendes_9@hotmail.com duvido que vás falar mas fica na mesma . continua assim a sentirte bem e a cuidar de ti pelo pouco tempo que tenhas cumprimentos e voltarei a entrar no teu cantinho vai escrevendo

ernesto disse...

Obrigada pelo teu comentário. Só te posso desejar o melhor e que encontres soluções para que te possas voltar a sentir bem :)