sábado, 21 de dezembro de 2013

cartas que não vou enviar

Gosto das cores do entardecer, das horas silenciosas da madrugada e da paz do nascer de um novo dia. Acho que só percebi isso hoje, porque acordei cedo e quase dei por mim grata por isso mesmo. Apesar de tudo.

Sem querer, deixei que me assomasses a mente outra vez. Para te ser franca, e apesar do quão estranho isto te possa parecer, tenho pensado muito em ti nos últimos tempos. E últimos é um eufemismo de que não me orgulho; não me parece bem assumir que não me tens saído da mente nos meses que precederam o hoje. Devia ser um segredo meu.

Adiante. Permiti-me a pensar em ti enquanto olhava para a espessa camada de nevoeiro que tocava o chão à minha volta. De repente, soou-me a uma estranha analogia daquilo que sinto por ti; nunca saberei os perigos que esconde, se não avançar. E posso sempre ficar aqui sentada, a sentir cada átomo do meu corpo a ficar enregelado à medida que o tempo passa e o nevoeiro desaparece, mas sei que estou a perder. Estou a perder tudo o que ele esconde de bom e de mau, por medo de avançar. E às vezes perdemos tanto, mas tanto, só por esse medo absurdo de nos atirarmos. Imagina que dom sebastião está a esta hora à espera que lhe arranjem uns faróis de nevoeiro para o cavalo; na volta, ainda não chegou porque tem medo de enveredar por um caminho desconhecido que não sabe onde vai dar.

Soubesse ele quanto o esperaram aqui. Soubesse ele que valia a pena ter avançado, mesmo sem ver um corno à frente do nariz.

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