sábado, 25 de outubro de 2014

conversas de café

Estou cansada de ouvir comentários relativos à homossexualidade, ou porque este e aquele da novela se beijaram, ou porque aquelas são tão lindas e, coitadinhos dos pais, saíram fufas (e como eu detesto esta palavra, senhores!). Estou cansada de gente que deixou o cérebro em 1728 e veio para o presente armada em boa - é a muito custo que não corro com tais criaturas à pedrada, mas arrisco-me a transformar-me na gaja que saca da bandeira gay do bolso e cria uma manifestação de duas em duas horas e isso era um bocado chato, até para mim. Só queria que, pelo menos por uma vez, as pessoas compreendessem a atrocidade que estão a cometer.

Deve ser-vos complicado acreditar nisto porque, raios os partam, parecem mesmo fazer de propósito, mas ninguém se torna gay só para vos chatear. Assim como eu não escolhi ser hetero e, se tudo correr bem, vocês também não. Ninguém escolhe. Ninguém se apaixona por alguém porque quer, porque dá jeito, porque os astros dizem que fazem um par perfeito - e eu lamento que, nos dias que correm, seja mais aceitável apaixonarmo-nos por um criminoso, por um homem que não faz nada, por um gajo que transforma qualquer serão num arraial de pancada, do que por alguém que nos trate bem mas que, por acaso, seja do mesmo sexo. 

Não me fodam - ver um casal gay a fazer uma endoscopia a céu aberto não é mais nojento do que ver um casal hetero quase a praticar o coito no meio de um jardim público e olhem que - surpresa das surpresas! - este último cenário é bem mais frequente do que ver qualquer manifestação de afeto em público por parte de homossexuais. E, mais uma vez, acho que isto é de lamentar - andar de mãos dadas é bom e sabe bem. E até - quem me viu e quem me vê! - espetar um beijo na criatura, só porque sim, só porque apetece, só porque é bom, em público, sabe pela vida e ninguém devia ser quase que impedido de o fazer, porque não foi assim que deus criou o mundo - mas, sendo assim, também devíamos andar todos nus e a comer o que as árvores dão. A não ser, claro, que tenham tirado da bíblia a parte em que o grande criador fundou a primeira loja de roupa e criou a internet - nesse caso, peço desculpa pela minha falta de cultura.

Passam a vida a dizer-nos que devemos aceitar as diferenças mas esquecem-se de que ser diferente não significa só nascer com um atraso mental, ou com quatro braços, ou com uma pila no meio da testa. Ser diferente às vezes é só pensar de maneira diferente. Agir de maneira diferente. Gostar do que não é convencional. Esquecem-se frequentemente de que estas diferenças não são menos merecedoras do nosso respeito do que qualquer outra - e, pelo amor de deus, o amor nunca devia ter de obedecer a regras para ser bem encarado. Aliás, amor mesmo é essa coisa sem jeito, sem convenções, sem nada. Eu sempre gostei de rapazes, é verdade, mas garantam-me vocês que o amor da minha vida não vai ser uma mulher qualquer. Podem fazê-lo? Nem eu.

Sem comentários: