domingo, 18 de setembro de 2016

sexta feira

Velhinho, pequenino, frágil, sentado numa cadeira de rodas na sala de espera, chorava. Chorava muito. Olhei-o, renitente; sei que não gostam da ideia de irmos a correr falar com os doentes, sei que, num hospital, chorar é tido como um comportamento normal, tão banal que não vale a pena abandonar os nossos afazeres. Olhei-o outra vez e não pude resistir.

Era o desespero de se ver doente, numa cadeira de rodas. A sensação de ser inútil, de só trazer problemas, de ser aquele o seu fim - e chorava, aquele velhinho pequenino e frágil. Chorava porque preferia morrer a ver-se assim, a dar trabalho. Um par de olhos azuis marejados de lágrimas e cheios de sofrimento; não sei que doença ali o levou, mas vi a dor que carregava e isso foi mais do que suficiente para mim.

Na sexta feira foi a primeira vez que me fui embora por não aguentar sentir as lágrimas nos meus próprios olhos.

6 comentários:

Anónimo disse...

E assim que a sociedade nos faz sentir, depois de nos ter sugado a vida por uma palhinha. :/

ernesto disse...

Demasiado triste, mesmo :|

Anónimo disse...

Quase tão triste como a vida deste blog, nos últimos tempos.
Vê lá se atinas, estupor. eheheheh

ernesto disse...

Eu bem tento, mas não anda fácil :|

Estudante disse...

:(...

Joana Sousa disse...

Caramba :(