sábado, 26 de novembro de 2016

something about christmas time

Eu hei de ter netos - talvez bisnetos. Hei de ter sido enfermeira, hei de ter tido 29 gatos, hei de ter uma casa com vista para o mar e outra no interior, só para ver neve todos os invernos. Hei de ter escrito um livro, talvez dois, talvez vinte. Hei de ter ficado gira e magra, hei de ter ganho o euromilhões - hei de ter ganho a paciência necessária para aturar pessoas de quem não gosto sem respostas tortas. Hei de, enfim, mudar, ser outra qualquer, realizar todos os meus sonhos e morrer de velhice, lá para os cento e tal - e, mesmo assim, o sozinho em casa não vai faltar um único ano, por alturas do natal precoce.

Arranjem uma companhia para o cachopo e acabem com isto, for da lóbe ó god!

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

eu nasci para o embaraço

Há uns meses, quando experimentei o tinder, li sobre o happn - creio que o conceito seja semelhante mas neste último só se recebe um aviso quando nos cruzamos com alguém que esteja a usar a mesma aplicação. Na altura, instalei e desinstalei logo a seguir porque não havia ninguém perto de mim. Nunca mais pensei nisso.

Até hoje - esta cinderela, iluminada que só ela, pensou "será que há alguém nestas vidas no hospital?", e resolveu reinstalar, por pura curiosidade. O que este génio não pensou foi na possibilidade de haver realmente alguém a usar a puta da aplicação, e em como seria cruzarem-se.

Tal como aconteceu.
Assim que instalei, localizei um pokemon: um médico de 26 anos, assim bastante asseadinho que, por acaso, nunca me despertou grande interesse, e que - igualmente só por acaso - estava no mesmo espaço que eu. E passámos o dia a cruzar-nos.
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(sim, a avaliar pelo ar do moço, ele também já tinha reparado)

(in)coerência

Desde que emagreci que sou um tanto ou quanto obcecada por tudo o que me faça crer que vou recuperar os 19kg em duas dentadas e que me faz sentir à beira de ir parar ao inferno das lontras obesas se pecar dessa forma - mas depois compro gelado e como sem culpas, sem pensar nas calorias, sem me imaginar com cascatas de banha neste metro e sessenta e oito de gente que deus nosso senhor me deu.

(não, não como gelado todos os dias, nem perto disso, acalmem-se lá)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

shame on me

Uma vez que estou, oficialmente, a treinar para old cat lady, comecei a ver a novela também - tenho a dizer que estou medianamente encantada com a amor maior: além de terem captado imagens giríssimas e bem diferentes das paisagens que todas as outras mostram, ainda tiveram a audácia de construir uma personagem que não fosse inteiramente má (nem inteiramente boa) como qualquer ser humano normal. 

Darem um lado bom e fofinho a um vilão, que ainda por cima é giro como tudo, só dá mais vontade ainda de arranjar os 28 gatos e enrolar-me na mantinha.

domingo, 20 de novembro de 2016

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

tenho uma queda por cabrões

Gosto de gajos que me desafiam. Que me dão gozo falar porque sinto que têm quase tanto de terreno minado quanto eu - tipos que me façam sentir que estou constantemente na red line, e ir escapando. Gosto dos que me trocam as voltas, dos que me surpreendem, dos que dão aso para duvidar do que se segue. Também gosto dos fofinhos mas nunca me sinto atraída por eles, nunca me fazem sentir nada - eu preciso de estabilidade e segurança mas não sou capaz de lidar com ela.

E é por isso que hoje estou de volta às lágrimas: a minha cabeça é um mar de pontas soltas, de dúvidas, de saudades. Tenho saudades da última vez em que me senti feliz, saudades de um abraço terno que não me cause repulsa. Sinto falta de uma voz que me acalme. Sinto e nem sei bem o quê - ou sei. Sei que cometi um erro gigante. Que abri uma ferida a tentar sarar outra, e agora não consigo lidar com nenhuma delas.

serviço público - parte 2

No seguimento do post anterior, tenho mais um conjunto de questões que devem ser esclarecidas antes de se juntar os trapinhos com um qualquer ser do sexo masculino, baseadas nas minhas experiências pouco felizes.

Garantam que o tipo é dos que faz piscas nas rotundas.
Esta é fácil de perceber. Vocês não vão querer estar com uma das (muitas) pessoas a quem desejam uma caganeira descomunal todos os dias, muito menos vão querer viver com ela.

Mostrem-lhe um pêssego e um alperce, e perguntem se sabe o que é.
Se ele disser que os alperces são pêssegos pequeninos e insistir que é ridículo darem-lhes designações diferentes porque, por exemplo, uma laranja é sempre uma laranja, independentemente do tamanho, tentem enfiá-lo no útero da mãezinha dele o mais depressa possível. E, pelo sim e pelo não, falem-lhes das tangerinas e das clementinas, não vá o diabo tecê-las.

Dêem-lhe coca cola e pepsi, sem ele saber.
Se não notar diferença no sabor e disser que quem distingue a coca cola da pepsi está a mentir, este também poderá ser um sinal de alerta. No entanto, se forem mesmo más cozinheiras, esta deficiência das papilas gustativas poderá jogar a vosso favor.

Como quem não quer a coisa, dêem a ideia de criarem um facebook de casal e trocarem alianças.
Se ele disser que sim, corram como se a vossa vida dependesse disso. Não queiram que o pai dos vossos filhos seja o gajo que guarda quatro alianças correspondentes a cada ex namorada. Todas elas compradas nos chinesses - as alianças e, eventualmente, as gajas. Não queiram.

Assegurem-se de que ele é capaz de matar centopeias e aranhas, e não se chateia convosco por o acordarem às três da manhã para chacinar bichos incómodos, só porque sim.
Alguém tem de o fazer, não é? E ninguém dorme descansado com uma centopeia na parede a observar.

Investiguem o passado. 
Não há nada como estar na posse de todas as informações úteis acerca da pessoa que se deita ao vosso lado, ou em cima de vocês. É importante garantir que não é um presumivel traficante de orgãos, capaz de aproveitar o vosso sono de beleza para vos extrair uma peça ou duas.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

serviço público

A cinderela tem má fama mas até sabe ser amiga - como prova disso e em honra da minha vasta experiência em fracassos sentimentais, decidi elaborar um manual de instruções para a procura do tipo ideal, baseado em situações mais ou menos caricatas que me aconteceram ao longo dos tempos.

Perguntem-lhe se gosta de gatos.
Têm de garantir que o tipo gosta de bichinhos ainda antes do primeiro encontro, especialmente se estiverem há tanto tempo quanto eu à espera para poder ter um. A relação não pode avançar se não tiverem a certeza de que o gajo vos vai deixar ter um gato.
Além disso, quando ele vos deixar e vocês virarem cat ladies, é melhor que ele goste de gatos. Vai parecer-lhe menos mau que vocês vivam com 27.

Assegurem-se de que o rapaz sabe que não tem ovários.
Ou, se forem azaradas como eu e tiverem uma queda por gajos conas, assegurem-se de que ele não os tem mesmo. Há alturas em que começamos a duvidar disso também.

Expliquem-lhe que só os homens é que têm próstata, e que as mulheres também têm pâncreas.
Pessoalmente, também acho que deus não pensou bem a coisa. Isto de fazer homens e mulheres com orgãos diferentes estava-se mesmo a ver que ia dar confusão. Especialmente quando se é demasiado limitado para entender quem é que tem o quê.

Questionem-no sobre o nome daquele buraquinho que ele tem na barriga.
Se disser que é o embigo, fujam daí e vão a fátima para se purificarem de tal maldição.

Entendam que eles são tão ou mais estúpidos do que nós.
Às vezes um segue-em-frente-porque-eu-já-não-gosto-de-ti-e-só-quero-ser-teu-amigo é mesmo sinónimo de atreve-te-a-andar-engalfenhada-noutro-e-vais-ver-se-não-amuo-e-deixo-de-te-falar-do-nada. 

Aceitem que eles vão continuar a fugir de conversas sérias que nem o diabo foge da cruz.
Se começarem a ver na senhora do voicemail um ombro amigo e acharem que ela está prestes a tratar-vos por tu e a perguntar como estão, é porque o tipo continua com demasiado medo de vocês e ainda não está pronto para conversar. Não importa. 
Mostrem-lhe que são raça-gaja e insistam, já nem tanto pela resposta mas só para ele ver o que é ter colhões e odiar covardes.

Mostrem-lhe os cantos da suite presidencial na friendzone.
Infelizmente, nem sempre um não-sinto-nada-por-ti surte o efeito desejado. Às vezes é mesmo preciso mostrar-lhes que estão instalados num excelente sítio, do qual não vão sair. E, ainda assim, nem sempre é suficiente também e continuam a lutar para ver se escapam. Epá... não.

Espero ter sido suficientemente elucidativa e que os meus ensinamentos vos ajudem no futuro. Se não ajudarem... aguentem-se. Eu passei pelo mesmo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

paradoxalmente

Quero um tipo querido e fofinho que me trate bem - quero, que quero. O problema? Nunca me interesso por nenhum.

Tenho uma queda por cabrões.

está tudo a ver a lua

Gente que tentou fotografar a lua com a câmera rasca do telemóvel e só conseguiu captar uma bolinha amarela num fundo preto:

estamos juntos nessa vida merdosa de pobre sem dinheiro para uma câmera em condições. Beijinhos solidários, sim?

domingo, 13 de novembro de 2016

demasiada areia para o meu camião

Contrariamente ao que seria expectável, eu não fico feliz quando apanho alguém a olhar muito para mim, como acontece lá com o interno giro - convenhamos que um moço bonito, adorável e inteligente, nunca olharia para a miúda feia e medianamente gorda que não passa de uma mera auxiliar esquisita, demasiado burra para passar a matemática e ir para enfermagem.

Foi por isso que quando ele veio falar comigo - sobre um doente, cumé óbiu - eu senti que tinha 16 anos outra vez, fiquei atrapalhada e a tagarelar, com uma vontade enorme de me esbofetear no fim. Eu podia, pelo menos, parecer normal quando abro a boca, não podia?

e a sorte, cinderela?

Tenho para mim que, aquando do meu nascimento, o diabo fez um contrato com o azar para garantir que me enfernizariam a torto e a direito - e tem cumprido.

Vocês não sabem, mas eu até tenho sido uma boa gaja: tenho conseguido maquilhar-me e andar com o cabelo arranjadinho na maior parte dos dias. Quase todos os dias, praticamente.

No entanto, houve um dia da semana passada em que eu acordei tarde, desgrenhada e com um humor de merda. Levantei-me, vesti-me e saí, com ar de múmia, desmaquilhada e sem me pentear. (Convém explicar que tenho um cabelo difícil porque é meio ondulado, logo só tenho duas opções quando ele está seco: pentear-me ou esticá-lo. Uma vez que eu já estava atrasada e ele passa o dia apanhado, não me pareceu grave ir mesmo assim.)

E quem é que voltou às urgências exatamente nesse dia?
O interno giro e fofo - o único interno a quem eu acho piada naquele hospital e em quem eu não metia a vista em cima há semanas. SEMANAS.

Não, eu não acho que o moço ia descobrir que eu sou o grande amor da vida dele só por eu ir arranjadinha - mas eu iria sentir-me menos mal de cada vez que o apanhasse a olhar para mim.

sábado, 12 de novembro de 2016

crazy people

- menina, que dia é hoje?
- é dia 11, porquê?
- estava aqui a pensar que era dia 28. faço anos a 28.
- de novembro?
- não, de maio.
Não esperem grandes melhoras na minha sanidade mental depois de 3 meses de urgência.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

portugueses portuguesíssimos

Um dia eu vou entender o que é que passa pela cabeça daquele bando de gente desocupada que, nos casos mais mediáticos, se mete à porta dos tribunais só para ver passar os arguidos e ter aqueles 30 segundos de ferocidade a gritar:

- gatuuuuno!
- ladrãaaaao!
- filho da puta!

Aliás, vai-se a ver e alguns até estão só a gritar coisas tipo:

- arroz com feijãaaao!
- cotonetes!
- diiiiiiiildo!

O que importa é fazer barulho.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

sobre o segredo que não é o meu

Tenho seis anos outra vez e, na escola, riem-se de mim. Dizem-me que tenho o nariz torto, mas eu não percebo porque sempre achei que era uma menina normal, uma menina como outra qualquer e nunca descobri nada de estranho em mim. Conto à minha mãe: eles são parvos, responde-me. E eu continuo a mesma menina que gosta de brincar e de aprender as coisas que ainda não são para a sua idade. 

Tenho dez anos outra vez e mudei de escola: nos corredores, apontam-me o dedo. Gozam comigo, constroem cantilenas: narizinho torto. Gorda. Dizem-me que sou a mais popular da escola, e sou mesmo - todos conhecem a anormal. Todos sabem quem eu sou, todos se riem de mim - começo a trancar-me na casa de banho nos intervalos. E à hora de almoço. Começo a fugir o mais possível, a baixar a cabeça para que não reparem. Choro todos os dias, mas vou para casa feliz: não quero afligir a minha mãe.

Tenho quinze anos outra vez e não entendo o que aconteceu. Os poucos amigos que fiz nos últimos cinco anos viraram-se contra mim de repente: voltaram a gozar comigo e eu estou sozinha. Chamam-me gorda, dizem-me muitas vezes que nunca ninguém vai gostar de mim porque sou anormal, porque tenho o nariz torto. Eles não sabem que eu não tenho culpa - nasci com uma malformação, não posso mudar. Estou sozinha.

Tenho dezasseis anos outra vez e almoço sozinha, às escondidas, num canto da biblioteca. Se não me virem não podem gozar comigo: gosto de um rapazito mas trato-o mal. Se ele achar que eu odeio, não vai perceber que gosto dele e não vai pensar que eu me acho merecedora de gostar de alguém normal. Ele nunca olharia para mim, eu sei. Nem ele nem ninguém.

Tenho dezoito anos outra vez e alguém olhou para mim. Ganhei coragem para começar a sair à rua com maquilhagem sem temer que me achem ridícula - digo muitas vezes que sou feia, gorda e anormal porque eu quero que as pessoas saibam que eu estou consciente disso e que não estou a tentar parecer bonita, porque isso é impossível. 

Tenho vinte e um anos: houve pessoas a cruzar a minha vida. Afinal, houve mesmo alguém a olhar para a miúda feia, gorda e anormal. Houve quem me achasse bonita, quem me fizesse sentir como tal. Houve pessoas na minha vida que me magoaram mas, ainda assim, mostraram-me que eu não sou a aberração que me ensinaram que eu era desde tão cedo. Tenho vinte e um anos e decidi começar a fazer alguma coisa por mim: em seis meses, perdi quase 20kg e há dias em que a imagem que o espelho me devolve não parece assim tão feia. Há dias em que me acho quae bonita - outros acho que estou só a ignorar partes de mim que nunca me permitirão sê-lo. Quem sabe?

Tenho vinte e um anos e não sei manter ninguém na minha vida: insegura, torno-me em alguém de que não me orgulho. Torturo as pessoas, questiono cada ação, cada palavra, cada olhar. Tenho vinte e um anos e sou insuportável porque não sei confiar em ninguém. Tenho vinte e um anos e há dias em que me sinto pequenina, pequenina, invisível, descartável, insignificante - fujo às pessoas porque não valho a pena, porque não sou ninguém, porque nunca vou ser melhor do que isto.

Tenho vinte e um anos e continuo a sentir-me a mesma miúda feia, gorda e anormal, sempre que cometo a loucura de me interessar por alguém.

ah, cinderela, conta lá a história da tua vida

do shiuuu

Não escrevi este segredo, mas tenho muito para escrever sobre ele.

não entendo

Uma das coisas que eu nunca vou entender são os médicos com ar de mal fodidos e entediadíssimos desta vida porque estão a trabalhar. Notem: passaram o secundário a marrar para entrar em medicina, depois passaram, pelo menos, mais seis anos a marrar para saírem de medicina... não era caso para estarem loucos de alegria, agora que são médicos?

I mean... alguém se mata a estudar durante, no mínimo, nove anos seguidos, sem ser para terem a profissão que sempre sonharam? Sem ser para os fazer estupidamente felizes?

a apontar

Cheiras tão bem, só o teu perfume é logo meio namoro!,
(penso que a outra metade em falta seja a parte da beleza, mas é só uma desconfiança)
 
 
 
 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

ceci n'est pas um blog lamechas, caralho!

[no fundo, eu sei a resposta - sei-o desde o primeiro dia, mesmo quando fico confusa, mesmo quando fico triste e a perguntar-me é que é possível que, de um dia para o outro, eu tenha perdido toda a importância que tinha para ti. magoa-me que, ao fim de dois anos, tenha sido tão descartável ao ponto de um dia teres decidido nunca mais me atender chamadas ou responder a mensagens onde só implorava por notícias tuas: obrigaste-me a seguir em frente, obrigaste-me a obrigar-me a esquecer-me do quanto gosto de ti. egoísta. eu não sou tão covarde quanto tu: teria lutado até ao fim, nunca duvides disso. e, quando me fizeste desistir de ti, não penses que fui sem dor: fiz os possíveis para salvar a amizade. acreditei piamente que, seguindo em frente, conseguiria manter-nos como amigos, que voltaríamos a estar os dois ao mesmo nível - mas nunca deixei de gostar de ti, nunca deixaste de ser importante, nunca deixei de te querer na minha vida, mesmo enquanto existiu outra pessoa. e fiz questão de o dizer, fiz questão que soubesses que eras demasiado especial para que eu aguentasse não ter notícias tuas.

e, no dia em que me cansei de esperar por uma resposta, também chorei: eu nunca me fui embora realmente porque um bocadinho de mim já é meio teu, desde sempre. porque foste demasiado para não seres nada - ainda que hoje eu ache que não te perdoo, ainda que não consiga seguir em frente com esta dúvida, ainda que me doa imaginar que não vou ter mais notícias tuas - no fundo, eu sei a resposta, mas quero que o digas.

depois de tudo, eu mereço ouvir-te dizer que não aguentaste perder-me.]

ponto da situação

Há muito tempo que não me sentia tão desapaixonada, e essa existência morna não combina com a minha personalidade em ebulição - é ridículo e meio absurdo, mas sinto a falta daquele sabor a início, do sorriso tolo, da ansiedade boa, do coração aos saltos com uma simples mensagem. Sinto falta de coisas boas, de sensações boas, de pessoas boas - ao invés, ando aqui a choramingar pelos cantos porque ainda não consegui recuperar o fôlego depois de tudo o que perdi nos últimos meses.

Em contrapartida, tenho sido feliz nas urgências - escolhi-as por amor ao caos e por crer que teria muito mais a aprender num sítio onde teria de me orientar pelo meu próprio pé, sem rotinas e sem regras, só correrias e muito improviso. Tenho sido mais feliz durante essas oito horas em que sei que sou boa no que faço e que consigo ser alguém de quem as pessoas gostam, sem tempo para pensar em qualquer outra coisa que não aquilo que vou fazer a seguir. E sabe bem, que sabe.

será que se nota que adoro o natal? - take2

Eu não gosto do natal - aliás, não gosto do período das festas, de todo.

Disse-o há uns dias, a duas senhoras da limpeza do hospital, e elas entreolharam-se com ar de coitadinha, e ficaram a achar que me teria acontecido alguma tragédia por essa altura: não aconteceu nada.

Não gosto do natal porque me cansa: somos obrigados a lidar com as decorações natalícias em tudo quanto é centro comercial quando ainda mal tivémos tempo de arquivar a toalha de praia e o protetor solar, e ainda ficamos com músicas de natal em looping na cabeça só porque cometemos a loucura de sair de casa para ir comprar pão. Uma pessoa já chega ao natal farta do natal; às vezes até dá vontade de pedir para antecipar as festividades e, do mal o menos, ficamos despachados até ao ano que vem.

Outro problema é ser a festa da família feliz e confortável, tudo lindo e fofinho - para mim é só mais um dia como tantos outros, com a família do costume, no sítio do costume, e uma carrada de espaços vazios deixada pela ausência daqueles de quem mais gosto e estão longe. Não há espírito natalício: há uma sessão no skype para disfarçar a dor, e a dor aumentada por ser suposto ser um dia mais feliz, porque é isso que se diz por aí em todo o lado.

Depois da febre do natal, chega a febre do reveillon que serve para lembrar os forever alone de que continuam sozinhos, e para lhes dar vontade de espetar qualquer merda pontiaguda na carótida, porque os anos passam e nada muda.

É por isto que não gosto desta altura do ano.
E agora, já podemos saltar para janeiro?

será que se nota que adoro o natal?

Como se a música do agir já não fosse ridícula quanto baste, ainda decidiram adaptar a make-up à popota.

Não podemos saltar já para janeiro?

domingo, 6 de novembro de 2016

sobre o que se perde

[perder alguém é como perder um pedaço de nós. como se nos dissessem que, daí em diante, há algo que sempre foi nosso mas com o qual nunca mais poderemos contar. é como se as nossas memórias deixassem de fazer sentido por não as conseguirmos enquadrar num tempo presente, por causarem dor todos os dias.
a morte é um lugar vazio na mesa e uma casa sem donos: é rasgar cinco folhas no calendário com a fúria de quem quer rasgar o tempo à procura de dias mais felizes, e continuar tudo igual, para sempre. é ver janelas fechadas, portas fechadas, escuro, silêncio, vazio. são as saudades de um par de olhos que nunca mais fitarão os nossos - é uma fuga até ao cemitério e uma conversa com uma lápide fria onde, algures, uns palmos mais abaixo, jazem os restos de uma das minhas pessoas preferidas: se me viu, lá de cima, riu-se com certeza. conhecendo-me desde sempre, nunca me poderia ter imaginado a fazer tal coisa: eu, a descrente, a desligada, a indiferente. fi-lo: sinto a falta de me sentar com ela à mesa, durante horas, em conversas intermináveis sobre nada de especial, sobre tudo, regadas com café e com amor.

fi-lo porque às vezes ainda me esqueço de que ela não vai voltar, e outras vezes não acredito.
fi-lo porque as saudades são tantas que já não cabem em mim - às vezes, transbordam.]

porque é que continuas solteira, cinderela?

Há dois tipos de gajos no mundo: os decentes e os que se metem comigo.

Uma noite destas, recebi uma mensagem no facebook de um rapaz que eu conheci há uns 3 ou 4 anos, porque tínhamos explicação juntos, a perguntar-me se o exame tinha corrido bem. Não existindo a desculpa de os carteiros se terem enganado e a mensagem ter chegado com uns anos de atraso, concluí que o moço deveria estar sob o efeito de substâncias psicotrópicas ou a meio de um qualquer surto de uma doença mental ainda não diagnosticada. Nunca se sabe.

Não tive tempo para lhe responder: quando viu que a mensagem tinha sido visualizada, apressou-se a dizer que tinha sido facejacking. Bem me parecia, pronto. E então, disse que não, que estava a brincar, que aquela tinha sido só uma forma de se meter comigo.

Estava a ficar meio trocada das ideias - não sei o que lhe deu para se ter metido comigo ao fim destes anos todos, nem estava a entender a oscilação entre o foi-a-sério e o foi-um-amigo-meu, que continuou durante um bom bocado, até que eu perguntei se ele, pelo menos, sabia quem eu era.

E sabia: a resposta estava certa. Mas, ao perceber que não estava com grande sorte, voltou a acarinhar a versão de que, afinal, não tinha sido ele - a sorte é que o amigo desconhecido até sabia de onde nos conhecíamos e tudo. For sure.

É disto que me calha e é por isto que vou acabar sozinha com 24 gatos.

sábado, 5 de novembro de 2016

as pontas soltas

É o estar sempre à margem da minha própria existência. É o esforço hérculeo para mostrar que estou aqui, o meter-me em bicos de pés, esticar os braços e, mesmo assim, nunca ser apanhada pela ótica da câmera. É o tentar ser sempre a melhor versão de mim e isso nunca ser suficientemente bom. É tentar ser o tipo de pessoa que as pessoas querem por perto, mas ser sempre o contrário. É o ser diferente, esquisita, solitária. É o sentir-me sempre demasiado descartável: um porto seguro, a transição entre o mau e o bom. A estabilizadora, a tranquilizadora, a amiga que nunca serve para o dia a seguir.

É o ser sempre usada e tão facilmente esquecível- É o nunca ser realmente importante, a incapacidade de carimbar a minha presença na vida de alguém. É um conjunto infinito de histórias que têm sempre o mesmo final: hoje, é o cansaço. É o sentir-me farta de nunca ser ninguém.

estou preparada para combater hipoglicémias por este mundo fora

Há meses que deixei de meter açúcar no café e que passei a ser mais uma dessas gajas gajíssimas que atiram os pacotes para o fundo da mala. 

Por acidente, a minha mão passeou por esse recôndito misterioso e descobriu que, a avaliar pela quantidade de pacotinhos que a minha mala alberga, devo estar quase a conseguir fazer um bolo com o açúcar que vou trazendo dos cafés.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

wondering

Se vão para o hospital para serem salvos por deus, porque é que não vão diretamente à igreja? Ou melhor: porque é que não ficam em casa?

O médico omnipresente não dá consultas ao domicílio?

inspirem-se

Quando acharem que a vossa vida é uma merda, pensem no seguinte:

Ontem, um jovem de 95 anos pediu-me um urinol - estava aflito, disse-me. Reparando nas calças molhadas na zona suspeita e no ar do senhor, adivinhei que ia precisar de ajuda.

Meti-o num cantinho, corri as cortinas, mas deixei-o à vontade: virou-se de lado. Achei que podia correr bem, até que ele exclama:

- ao que uma pessoa chega! isto são só peles, nem a encontro!

Observei a genitália com idade suficiente para pertencer a um trisavô meu, e concluí que, de facto, encontrar uma pila naquela salganhada de peles era quase mais difícil do que encontrar o Pedro Dias. Ainda assim, confiei no senhor quando ele introduziu uma pontinha no urinol.

O problema?
Era a pontinha errada. O senhor correu o risco de ficar monocolhão e conseguiu a proeza de mijar em todo o lado, menos no urinol - estranhou sentir a roupa a ficar ensopada, enquanto a minha alma vertia três ou quatro lágrimas interiores e eu me preparava para o despir e mudar os lençóis, all by myself, porque preferi não explicar a ninguém que aquilo aconteceu porque não fomos capazes de encontrar a pila.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

cinderela, a desinteressante

Dei-me conta de que sempre que me dizem ahh, tu é que conheces isto, escolhe aí um sítio fixe para irmos, nunca me ocorre um bar mesmo giro ou o café da moda, porque eu raramente entro em bares ou em cafés ou seja onde for: chata e lontra que só eu, vou levar-vos, invariavelmente, para a praia e esperar que vocês sejam capazes de alimentar uma conversa metafísica sobre pensos rápidos ou azeitonas durante horas.

É isto que eu sou, desculpem lá.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

o gajo ideal

Acreditem quando vos digo que ser gaja a tempo inteiro é muito mais desgastante do que qualquer emprego: há uma certa bipolaridade inerente à condição, e isto é muito mais complexo do que se possa imaginar.

Por força de todas as catástrofes sentimentais que deus nosso senhor me mete em mãos, só para gozar com a minha cara, acabei por me aperceber de algo sobre mim mesma, que acredito que seja comum ao restante gajedo que habita este mundo: inconscientemente, tenho uma lista mental daquilo que seria o gajo perfeito.

Baseada nas experiências anteriores, uma pessoa começa a pensar ah, eu não gostava que este só me mandasse mensagem de três em três dias, então quero um que faça questão de saber diariamente se eu ainda respiro. Ou uhmmm, de cada vez que este gajo sai à noite, eu imagino-o num festival de mamas saltitantes a fazer endoscopias com a própria língua a todas as criaturas portadoras de uma vagina, ou não, então eu prefiro um pacato que prefira o calor de uma lareira para passar o serão a fazer crochê. Ou ainda este aqui é cheio de manias esquisitas e pensa que os alperces são pêssegos pequeninos, quero é um simples que perceba estas coisas.

Um dia, minhas caras alforrecas, a magia acontece: livres que nem um passarinho, encontram o gajo ideal. O gajo que parece ter sido feito à medida das vossas exigências, o enviado especial de deus para satisfazer todos os vossos desejos e para fazer de vocês a mulher mais feliz do mundo.

E o que é que vocês sentem?
*badum tsssss*
Asco!

No more, no less: o gajo ideal existe, mas é mais fácil vocês imaginarem-se a ter uma noite louca com o Marco Paulo do que com a criatura em questão, porque ele é uma seca. O gajo ideal não dá trabalho nenhum, não vos desafia, não vos dá motivos para resmungar, e isso torna-o num molengão insuportável aos vossos olhos.

Estúpidas como só as gajas conseguem ser, preferimos sempre os patetas que nos dão problemas e que inspiram dramas intermináveis. A pessoa imagina sempre um romance foficoiso mas, no final das contas, prefere o caos - e um amor de faca e alguidar.